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domingo, 13 de outubro de 2019

Do Pôr do Sol ao cair da noite

Stephanie Caroline Matos Dantas¹

No dia 07 de setembro, ocorreu no Parque da cidade, a abertura do Palco Giratório. O Palco Giratório é um importante festival de artes cênicas realizado pelo Serviço Social do Comércio (SESC).  O espetáculo convidado para abrir a programação, foi O Palhaço de la mancha, da Cacompanhia de Artes Cênicas, coletivo que atua em Manaus desde 2017, realizando espetáculos teatrais e a arte da palhaçaria.
Cacopanhia. Foto Raíssa Dourado.
O Palhaço de La Mancha retrata a obra clássica de Miguel de Cervantes (1547-1616): Dom Quixote, na ótica da Palhaça Pãobolo (Stephane Bacelar) e dos Palhaços Caco (Jean Palladino) e Numadi (Richard Harts). O trio se aventura entre moinhos, cataventos e batalhas, proporcionado pela magia literária de Cervantes e pela comicidade, loucura e lógica do palhaço e da palhaça.
O espetáculo é dirigido por Jhon Weiner, professor da Universidade Estadual do Amazonas. A direção propõe que o espetáculo, sempre que possível, seja apresentado ao pôr do sol, para simbolizar o descanso de Dom Quixote. Sua morte se daria quando o sol já não brilhasse mais.
Ainda no elenco, temos Francine Marie responsável pela execução da música e também assina, juntamente com Paulo Tiago, a concepção dos adereços. A percussão é interessante e bem executada. Porém, em alguns momentos, os palhaços e a palhaça não estavam no mesmo tempo da música, havia desencontros.
Vale ressaltar o trabalho de Dione Maciel, responsável pela concepção dos figurinos: belíssimos e nos remete aos tempos antigos.
A interação com o público, no meu ponto de vista, foi pouca. Acredito que os palhaços e a palhaça poderiam receber o público quando eles estivessem chegando, interagindo com os mesmos. Faz-se necessário trabalhar melhor a triangulação. Em vários momentos, Caco, Numadi e Pãobolo ficavam fechados entre si e não abriam a cena para o público. É importante no teatro de rua a relação que se estabelece, por meio da triangulação, entre ator/atriz e público.
O Palhaço de La Mancha é um espetáculo novo, que teve sua estreia em 2018, por isso precisa ser apresentado mais vezes para ganhar ritmo e assim poder observar o que funciona e o que não funciona na relação com o público. O espetáculo tem questões importantes a serem ditas. Quando Sancho Pança relata os seus medos para Dom Quixote, é uma cena muito poética e tocante.
Foto Raíssa Dourado.
O espetáculo trouxe-me a reflexão sobre a importância da utilização do gênero feminino. Muitas vezes, utilizamos as palavras apenas no gênero masculino. Quando nomeamos um grupo de pessoas no masculino, que contém mulheres e homens, acreditamos que ao fazermos isso, estamos mencionando as mulheres desse grupo. Porém a estamos excluindo. Segundo o Manual para o uso não sexista da linguagem, disponível na internet, “Para que a mulher esteja representada é necessário nomeá-la”. Quando a palhaça Pãobolo e Francine enfatizam durante o espetáculo as palavras no feminino: “palhaça”, “mercadora”, “senhora” e “taberneira”, me senti representada e reflexiva a respeito. Ressalto a importância de manter esta proposição do início ao fim do espetáculo.
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¹ Discente do Curso Licenciatura em Teatro da Universidade Federal de Rondônia. 

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