Stephanie Caroline
Matos Dantas¹
No dia 07 de setembro,
ocorreu no Parque da cidade, a abertura do Palco Giratório. O Palco Giratório é
um importante festival de artes cênicas realizado pelo Serviço Social do
Comércio (SESC). O espetáculo convidado
para abrir a programação, foi O Palhaço
de la mancha, da Cacompanhia de Artes Cênicas, coletivo que atua em Manaus
desde 2017, realizando espetáculos teatrais e a arte da palhaçaria.
Cacopanhia. Foto Raíssa Dourado. |
O
Palhaço de La Mancha retrata a obra clássica de Miguel de Cervantes
(1547-1616): Dom Quixote, na ótica da
Palhaça Pãobolo (Stephane Bacelar) e dos Palhaços Caco (Jean Palladino) e
Numadi (Richard Harts). O trio se aventura entre moinhos, cataventos e
batalhas, proporcionado pela magia literária de Cervantes e pela comicidade,
loucura e lógica do palhaço e da palhaça.
O espetáculo é dirigido
por Jhon Weiner, professor da Universidade
Estadual do Amazonas. A direção propõe que o espetáculo, sempre que
possível, seja apresentado ao pôr do sol, para simbolizar o descanso de Dom
Quixote. Sua morte se daria quando o sol já não brilhasse mais.
Ainda no elenco, temos
Francine Marie responsável pela execução da música e também assina, juntamente
com Paulo Tiago, a concepção dos adereços. A percussão é interessante e bem
executada. Porém, em alguns momentos, os palhaços e a palhaça não estavam no
mesmo tempo da música, havia desencontros.
Vale ressaltar o trabalho
de Dione Maciel, responsável pela concepção dos figurinos: belíssimos e nos remete
aos tempos antigos.
A interação com o público,
no meu ponto de vista, foi pouca. Acredito que os palhaços e a palhaça poderiam
receber o público quando eles estivessem chegando, interagindo com os mesmos.
Faz-se necessário trabalhar melhor a triangulação. Em vários momentos, Caco,
Numadi e Pãobolo ficavam fechados entre si e não abriam a cena para o público.
É importante no teatro de rua a relação que se estabelece, por meio da
triangulação, entre ator/atriz e público.
O
Palhaço de La Mancha é um espetáculo novo, que teve sua
estreia em 2018, por isso precisa ser apresentado mais vezes para ganhar ritmo
e assim poder observar o que funciona e o que não funciona na relação com o público.
O espetáculo tem questões importantes a serem ditas. Quando Sancho Pança relata
os seus medos para Dom Quixote, é uma cena muito poética e tocante.
Foto Raíssa Dourado. |
O espetáculo trouxe-me a
reflexão sobre a importância da utilização do gênero feminino. Muitas vezes,
utilizamos as palavras apenas no gênero masculino. Quando nomeamos um grupo de
pessoas no masculino, que contém mulheres e homens, acreditamos que ao fazermos
isso, estamos mencionando as mulheres desse grupo. Porém a estamos excluindo.
Segundo o Manual para o uso não sexista
da linguagem, disponível na internet, “Para que a mulher esteja representada
é necessário nomeá-la”. Quando a palhaça Pãobolo e Francine enfatizam durante o
espetáculo as palavras no feminino: “palhaça”, “mercadora”, “senhora” e “taberneira”,
me senti representada e reflexiva a respeito. Ressalto a importância de manter
esta proposição do início ao fim do espetáculo.
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¹ Discente do Curso Licenciatura
em Teatro da Universidade Federal de Rondônia.
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