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sábado, 12 de outubro de 2019

Agreste ou das durezas e delícias das boas histórias


Adailtom Alves Teixeira[1]

Nascido a partir de um exercício proposto na universidade, o espetáculo Agreste do coletivo Barulho do Acre, nos lembra que somos feitos também de boas histórias. O espetáculo foi apresentado dia 09 de setembro de 2019 no Teatro 1 do Sesc Rondônia, dentro da programação do Festival Palco Giratório, na cidade de Porto Velho. O espetáculo nos transportou para um nordeste que, talvez, não mais exista, ainda que o que foi contado seja recorrente em todo o país. Trata-se de uma história de amor. Ainda assim, há “algo no amor deles que não devia acontecer”.

Essa não é a primeira montagem do texto primoroso do pernambucano e radicado em São Paulo, Newton Moreno. A montagem realizada pelo grupo Razões Inversas (SP), lhe rendeu os prêmios Shell e APCA de melhor texto, além de projeção nacional, na excelente direção de seu ex-professor Márcio Aurélio. A história de amor de duas pessoas humildes é linda, enquanto “permitida socialmente”. Aí está a grandeza do texto: por meio de algo simples e cotidiano, descortina os preconceitos e as maldades de uma sociedade. Escrito em uma mistura de cultura popular e tons de erudição, a história de amor de um casal que viveram juntos por 22 anos em perfeita união e, aparentemente, eram benquistos por todos até descobrirem algo sobre suas sexualidades.
Matheus Filgueira. Foto Raíssa Dourado.

A montagem do Barulho do Acre, com direção de Sandra Buh[2], é minimalista. Aposta totalmente na palavra, para que a história pule aos nossos ouvidos. A direção musical, a cargo de Écio Rogério – que executa ao vivo com a diretora – cria, por meio da paisagem sonora, o ambiente nordestino, já que em cena, não há elementos que possam propriamente remeter à essa geografia. O mínimo de elementos que a direção opta, para realçar ainda mais a história, está presente no figurino e no cenário – que é composto de apenas uma cadeira e um chão de palavras.

A atuação de Matheus Filgueira, o arquiteto-ator, vai nos envolvendo em sua narrativa – trata-se de um espetáculo épico – até explodir em diversas personagens, que encanta pela sobriedade, pela ausência de exageros, mesmo nas personagens que poderíamos ver como caricatas, demonstrando, assim, seu domínio de cena.
Écio, Sandra e Matheus. Foto Raíssa Dourado.

Há um trecho da peça em que o narrador afirma que “é preciso muita coragem para dar um passo”. O Barulho do Acre deu um passo certeiro na escolha do texto, com uma temática fundamental nos dias atuais, afinal “qualquer maneira de amor vale a pena”, já dizia o poeta. Além disso, foram corajosos em apostarem na palavra, esta que já imperou por séculos e depois foi tão negada na cena contemporânea, mas como demonstra a montagem de Agreste, ainda é fundamental nos palcos, sobretudo nas boas histórias.



[1] Professor do Curso Licenciatura em Teatro da Universidade Federal de Rondônia; Mestre em Artes pela Universidade Estadual Paulista; integrante do Teatro Ruante; coordenador do Grupo de Pesquisa e Extensão em Crítica Teatral; e articulador da Rede Brasileira de Teatro de Rua.

[2] Ficha Técnica enviada por Sandra Buh:
Direção: Sandra Buh
Ator: Matheus Filgueira
Criação e execução musical: Écio Rogério e Sandra Buh
Figurino: Sandra Buh e Matheus Filgueira
Cenografia: Mateus Filgueira

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