Adailtom Alves Teixeira[1]
Nascido a partir de um exercício proposto na universidade, o
espetáculo Agreste do coletivo
Barulho do Acre, nos lembra que somos feitos também de boas histórias. O
espetáculo foi apresentado dia 09 de setembro de 2019 no Teatro 1 do Sesc
Rondônia, dentro da programação do Festival Palco Giratório, na cidade de Porto
Velho. O espetáculo nos transportou para um nordeste que, talvez, não mais exista, ainda que o que foi contado seja recorrente em todo o país. Trata-se de
uma história de amor. Ainda assim, há “algo no amor deles que não devia
acontecer”.
Essa não é a primeira montagem do texto primoroso do
pernambucano e radicado em São Paulo, Newton Moreno. A montagem realizada pelo
grupo Razões Inversas (SP), lhe rendeu os prêmios Shell e APCA de melhor texto,
além de projeção nacional, na excelente direção de seu ex-professor Márcio Aurélio.
A história de amor de duas pessoas humildes é linda, enquanto “permitida
socialmente”. Aí está a grandeza do texto: por meio de algo simples e
cotidiano, descortina os preconceitos e as maldades de uma sociedade. Escrito em uma mistura de cultura popular e tons de erudição, a história de amor de um
casal que viveram juntos por 22 anos em perfeita união e, aparentemente, eram
benquistos por todos até descobrirem algo sobre suas sexualidades.
Matheus Filgueira. Foto Raíssa Dourado. |
A montagem do Barulho do Acre, com direção de Sandra Buh[2],
é minimalista. Aposta totalmente na palavra, para que a história pule aos
nossos ouvidos. A direção musical, a cargo de Écio Rogério – que executa ao
vivo com a diretora – cria, por meio da paisagem sonora, o ambiente nordestino,
já que em cena, não há elementos que possam propriamente remeter à essa
geografia. O mínimo de elementos que a direção opta, para realçar ainda mais a
história, está presente no figurino e no cenário – que é composto de apenas uma
cadeira e um chão de palavras.
A atuação de Matheus Filgueira, o arquiteto-ator, vai nos
envolvendo em sua narrativa – trata-se de um espetáculo épico – até explodir em
diversas personagens, que encanta pela sobriedade, pela ausência de exageros,
mesmo nas personagens que poderíamos ver como caricatas, demonstrando, assim,
seu domínio de cena.
Há um trecho da peça em que o narrador afirma que “é preciso
muita coragem para dar um passo”. O Barulho do Acre deu um passo certeiro na
escolha do texto, com uma temática fundamental nos dias atuais, afinal “qualquer
maneira de amor vale a pena”, já dizia o poeta. Além disso, foram corajosos em
apostarem na palavra, esta que já imperou por séculos e depois foi tão negada na
cena contemporânea, mas como demonstra a montagem de Agreste, ainda é fundamental nos
palcos, sobretudo nas boas histórias.
[1]
Professor do Curso Licenciatura em Teatro da Universidade Federal de Rondônia;
Mestre em Artes pela Universidade Estadual Paulista; integrante do Teatro Ruante;
coordenador do Grupo de Pesquisa e Extensão em Crítica Teatral; e articulador
da Rede Brasileira de Teatro de Rua.
[2]
Ficha Técnica enviada por Sandra Buh:
Direção: Sandra Buh
Ator: Matheus Filgueira
Criação e execução musical: Écio Rogério e Sandra Buh
Figurino: Sandra Buh e Matheus Filgueira
Cenografia: Mateus Filgueira
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