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terça-feira, 4 de março de 2025

MOSTRA GRITOS DO COTIDIANO - rompendo estruturas - 3ª edição

 

A Mostra Gritos do Cotidiano – Rompendo Estruturas é um projeto que surge em resposta ao alarmante cenário de feminicídios e violência no Brasil, conforme evidenciado pelo 14º Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2020, o qual destaca um aumento preocupante desses índices. Diante dessa realidade, o projeto busca abordar e expor as diversas formas de violências enfrentadas pelas mulheres em seu cotidiano, muitas vezes relegadas ao silêncio e à invisibilidade social. Por meio de cenas e performances, a Mostra busca criar um espaço de expressão e conscientização sobre tais questões.

Nesta terceira edição, o projeto expande sua abordagem, concentrando-se nas vozes e experiências das mulheres. Para tanto, uma pergunta fundamental nos orienta: o que elas precisam gritar? A indagação busca dar voz às vivências, necessidades e demandas específicas das mulheres da região Norte, com destaque para Porto Velho/ Rondônia, reconhecendo suas experiências e os desafios que enfrentam em seu cotidiano. Ao todo serão três dias de programação, com duas apresentações diárias, seguidas de roda de conversa.


Selma Pavanelli, coordenadora do evento, afirma que “programações culturais que discutem a condição da mulher na sociedade brasileira é fundamental e é o que teremos”. Já a idealizadora da Mostra, Stephanie Matos, diz está muito feliz, porque “é a primeira vez que o evento é realizado de modo presencial, já que as edições anteriores ocorreram durante a pandemia”.

O projeto foi contemplado no EDITAL Nº 3/2024/SEJUCEL - SIEC - LPG – DEMAIS LINGUAGENS – BOLSAS PARA PRODUÇÃO DE ARTES INTEGRADAS RONDONIENSE – Eixo I - Categoria A – Evento Cultural.



SERVIÇO
Quando: 14, 15 e 16 de março de 2025

Horário: 19 h

Quanto: GRATUITO

Acessibilidade: Intérpretes de Libras

Local: Espaço Cultural Tapiri - Endereço: Rua Franklin Tavares, 1349, Bairro Pedrinhas – Porto Velho, RO


PROGRAMAÇÃO

DIA 14/03/25

Cotidiano-Mulher, atriz Selma Pavanelli - foto Karla Schmohl



COTIDIANO-MULHER narra o dia a dia de uma costureira e sua relação em um mundo marcado pela postura masculina-patriarcal. Nesse atravessamento e (des)encontros, aos poucos, desvelam-se as marcas e problemas enfrentados por esta mulher.

SELMA PAVANELLI – Produtora cultural, atriz, palhaça, figurinista, integrante fundadora do Teatro Ruante desde 2004. Seu trabalho, com mais de três décadas de atuação, é inspirado no universo popular e tendo por objetivo democratizar a arte e promover uma comunicação direta com seu público. A atriz tem como locus fundamental em sua trajetória os espaços abertos e alternativos, além disso vem promovendo vivências artísticas por meio de oficinas e cursos de teatro, de técnicas circenses e da palhaçaria.

Ficha Técnica
Texto: Andressa Ferrarezzi
Interpretação/adaptação: Selma Pavanelli
Direção: Adailtom Alves
Duração: 10 min.
Faixa etária: 14 anos

Carcinoma, atriz Cláudia Toledo - foto Elias Oliveira



CARCINOMA é o encontro da arte com a realidade. A experiência nua e crua que pulsa na veia em busca da cura do ser, do transcender! É sobreviver! A obra resultante de uma vivência vista com um outro olhar. É leveza consciente, vívida e envolvente. O limite entre o são e o insano. A atriz-personagem dialoga com a trajetória caminhada com o câncer de mama, e compartilha o que foi construído a partir das etapas vencidas, como num surto, prevalecendo a poética de uma dramaturgia que passeia entre o real e o imaginário.

CLAUDIA TOLEDO – Atriz, diretora, coreógrafa, figurinista, aderecista, dramaturga, e, atualmente, diretora da Cia. Visse e Versa (Rio Branco/AC) e membro fundadora deste coletivo, atuando também na produção de projetos de circulação, formação, difusão e de Festivais realizados pelo seu grupo e pela Federação de Teatro do Acre (FETAC), a qual é filiada desde 2008. Licenciada em Letras Inglês pela UFAC, com especialização em Educação Especial. Professora de Arte Educação, Dança e Teatro na rede pública e privada de ensino.

Ficha Técnica
Atuação, Dramaturgia e Figurino: Claudia Toledo
Direção Artística, Cenografia: Nonato Tavares
Assistência de Direção, Operação de Som, Iluminação: Lenine Alencar
Consultoria de Figurino e Design Gráfico: Ágatha Lima Rosa
Criação Sonora e Direção Musical: Diogo Soares
Efeitos Sonoros: Pedro Cruz (Rabeca), Mestre Matraca (Atabaque)
Mixagem e Masterização: Rislei Moreira
Fotografia: Elias Oliveira
Produção: Lenine Alencar
Duração: 40 minutos
Faixa Etária: 14 anos


RODA DE CONVERSA: Fórum Popular de Mulheres (FPM) – Criado 1992, motivado pela luta de mulheres ativistas dos movimentos popular e sindical e de organizações sociais que pautavam a defesa dos Direitos Humanos de Mulheres e Meninas, dos direitos sexuais e reprodutivos e pelo Fim da Violência contra mulher baseada em Gênero e do Feminicídio, no Município de Porto Velho-RO. O FPM também desenvolve projetos na área de artes, como o Canta Mulher.


DIA 15/03/25

Desnuda, performer Andéa Melo - foto Frank Busatto



DESNUDA é uma performance que busca uma contextualização sobre a sujeição da mulher e a naturalização das violências cotidianas. Partindo de algumas provocações, como a da pensadora G. Spivak em Pode o subalterno falar? e Bell Hooks em Erguer a voz, vem lembrar que ser mulher se mostra de forma interseccional e cada uma é atravessada por tipos de violências variadas. Além da denúncia, visa apontar uma possibilidade de confiar em si e no que sentimos, em conhecer nosso corpo, nossas dores, e em nosso processo de tentar se descontaminar do patriarcado.

ANDRÉA MELO é artista-pesquisadora do corpo na cena, com experiência em ensino, criação e estudos do movimento a partir da dança. Formada em Arte Visuais, pela Universidade Federal de Rondônia (UNIR), é amazonense de nascença e rondoniense de vivência. Investiga as possibilidades entre a dança, a performance e as artes visuais.

Ficha Técnica
Intérprete-criadora: Andréa Melo
Texto: Aline Monteiro
Música: Suçuarana (Pietá)
Fotografia: Frank Busatto
Duração: 20 minutos
Faixa Etária: 18 anos

Elisabete Christofoletti, psicóloga - foto @imagemdointerior



RODA DE CONVERSA: O que grito?! – Uma oportunidade para o compartilhamento de falas e do aprendizado na escuta. Na relação com o/a outro/a, no acolhimento respeitoso e na escuta segura nos propomos a oferecer um espaço de elaboração das feridas que gravam fundo em nossas vivências quotidianas.

Mediação e condução: ELISABETE CHRISTOFOLETTI – Está na Amazônia há mais de 30 anos. Psicóloga, Analista Junguiana, profundamente comprometida com os Povos da Floresta. Faz parte do Coletivo Madeirista, um grupo de artistas multimídias, moradores na Amazônia; do MIIS-RO (Museu Imaterial da Imagem e do Som de RO); do Imagem do Interior; do AGPAA (Associação Grupo de Psicologia Analítica na Amazônia).

Ficha Técnica
Duração: 90min
Faixa Etária: 18 anos
Imagem: @imagemdointerior


DIA 16/03/25
Eva, atriz Kaline Leigue - foto Luisa Ritter


EVA é um solo poético que celebra o laço ancestral entre avó e neta, unindo palavra, canto e corpo. A obra mergulha na busca de pertencimento de uma artista, explorando sua ancestralidade e os afetos enraizados em sua história.

KALINE LEIGUE é atriz e realizadora audiovisual afroamazônida, com foco na ancestralidade, no teatro, na dança e no cinema. Produziu seis curtas-metragens selecionados para festivais nacionais. Participa de projetos culturais e compartilha experiências sobre metodologias para atores.

Ficha Técnica
Direção, dramaturgia e atuação: Kaline Leigue
Figurino e adereços: Valdelita Leigue
Sonoplastia: Junior Brum
Duração: 30 minutos
Faixa Etária: Livre

Incanto, cantora Izabela Lima - foto Iury Melo



INCANTO é um pocket show em que serão apresentadas canções interpretadas pelo trio Izabela Lima, Rose Abensur e Mauro Araújo. As canções autorais selecionadas para o palco pela cantora e compositora trazem mensagens de empoderamento feminino, encantamento das paixões e milagres cotidianos.

IZABELA LIMA é cantora, compositora e instrumentista. Busca incentivar a rede de mulheres artistas, seja como criadoras e/ou produtoras, por meio do Grupo de Mulheres que Escrevem Jardim das Evas, pela coordenação do Festival Sonora PVH de compositoras e pelo seu artivismo no Levante Feminista de Rondônia. Também atua com a produção de campanhas de ativismo por meio PPkast produções.

Ficha Técnica
Voz/percussão: Izabela Lima
Flauta transversal: Rose Abensur
Piano/teclado: Mauro Araújo
Duração: 30 minutos
Faixa Etária: Livre


RODA DE CONVERSA: Participações especiais do Levante Feminista de Rondônia (é uma frente suprapartidária formada por movimentos feministas, organizações e mulheres diversas que tem como objetivo sensibilizar, mobilizar e denunciar à sociedade o aumento dos casos de feminicidío, o descaso e a omissão do Estado, e ainda exigir medidas efetivas de proteção à vida das mulheres), Mulheres Atingidas por Barragens (Desde o início do MAB – Movimento dos Atingidos Por Barragens –, as mulheres tiveram um papel ativo e importante em sua construção e em todas as regiões do Brasil, seja nas tarefas de liderar as lutas, seja nas tarefas organizativas na comunidade que fortaleciam o movimento garantindo a organicidade das atividades. Cada região traz suas particularidades, o importante é evidenciar que as mulheres atingidas sempre estiveram em busca de seus direitos) e Rede Lilás (criada em 2010, com o objetivo de unir instituições, órgãos, agentes e pessoas que trabalham de forma integrada e cooperativa no enfrentamento à violência doméstica e familiar contra a mulher, visando sua proteção e atendimento).



CONTATOS:
Coordenação Geral: (69) 98164-3332 – Selma Pavanelli
Produção: (69) 98425-6408 – Stephanie Matos

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

A ARTE CÊNICA EM RONDÔNIA

       
Valdete Sousa[1]

O teatro tem uma história específica, capítulo essencial da história da produção cultural da humanidade. Nesta trajetória o que mais tem sido modificado é o próprio significado da atividade teatral: sua função social.
(Fernando Peixoto)

Resumo:     A pesquisa realizada trata das questões relacionadas ao desenvolvimento do teatro no Estado de Rondônia, desde suas primeiras manifestações até a atualidade. Os resultados partem de um estudo de desenvolvimento, feito através de instrumentos de coletas de dados, por meio de  formulários e entrevistas. A trajetória do teatro local inicia-se, ainda no período da construção de Porto Velho, com a instalação da sede da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, às margens do rio Madeira.


Palavras Chaves: Teatro, Cultura, Arte, Rondônia.


1. INTRODUÇÃO
                   O objeto de pesquisa discutido no presente artigo é o desenvolvimento das artes cênicas no estado de Rondônia, tema abordado na Monografia de conclusão de curso de Graduação de Letras sob o título O Desenvolvimento do Teatro em Rondônia. Portanto, esta pesquisa delineia a  trajetória que a história do teatro em Rondônia trilhou, desde suas primeiras manifestações até a atualidade, sob o ponto de vista histórico, artístico e social.
                   O tema escolhido justifica-se, pois, não existe no estado, até o presente momento, pesquisas nesta área e não há registros que digam como, quando, ou mesmo se ocorrem essas manifestações. O objetivo geral desta pesquisa fixa-se na arte cênica em Rondônia tomando por base os acontecimentos nos municípios de Porto Velho, Ji-Paraná, Cacoal e Vilhena, observando qual a contribuição que o teatro proporciona a essas comunidades. Bem como, a trajetória que percorreu ao longo da história. Os objetivos específicos referem-se à pesquisa e a catalogação dos principais grupos, atores e técnicos em artes cênicas que estão em exercício no momento ou que tiveram relevância na história do teatro local. Como também, fez-se um levantamento de registros que comprovam a origem da arte no Estado.
                   Tendo em vista cumprir o propósito mencionado, foi feito um estudo de desenvolvimento, utilizando de instrumentos para coletas de informações como entrevistas e formulários. Além de pesquisas nos bancos de dados existentes no Estado, como o Centro de Documentação de Rondônia, Bibliotecas municipais e orgão ligados ao teatro: SATED – Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos e Diversões e FETER- Federação de Teatro de Rondônia. Mas, grande parte da pesquisa foi conseguida através da história oral documentada nas entrevistas e de documentos de arquivos pessoais.

2. DESENVOLVIMENTO

2.1 O Porto de partida     
                   As manifestações culturais no município de Porto Velho, no início do séc. XX, conforme Arimar Souza de Sá (2000, p. 60) afirma, possuía alguns locais demarcados: “O Danúbio Azul, o Bancrévea, o Clube da Elite, onde aportava sem pudor a fina flor da rapiocagem. A casa Saudade e O mundo Elegante, os pontos chiques da moda”.O autor aponta, ainda, os encontros culturais do antigo Porto Velho Hotel, atual Unir Centro, local onde os principais artistas do município encontravam-se. Um dos nomes mais marcantes deste período é o de Dona Labibe Barthólo, nascida em 13 de maio 1909, atriz atuante e muito influente que chega a Porto Velho em 1912. Trabalhou como atriz e cantora, primeiro nos grupos do Madeira-Mamoré, na déc. de 30, que faziam apresentações nas casas de militares, a arte caminhava de casa em casa. Posteriormente, no Cine Phoenix ou em bailes que aconteciam no Antigo Clube Internacional.
                   Sabe-se que entre as décadas de 40 e 60, grandes Companhias de Teatro como a de Tônia Carrero passaram pela Capital. Um grande momento para arte deste período ocorre em 1950 com a inauguração do Cine Teatro Resky.
Porto Velho se rendeu fascinada a majestosa beleza do Cine Teatro (...) A partir daquele momento ele passou a ser o orgulho da população do então Território Federal do Guaporé.(...) Era o grande destaque onde o luxo e o requinte naquela nova sala de espetáculos empolgava. (ELETRONORTE, 2005, p. 76)

                   Neste período, Rondônia possui uma produção ainda insipiente e voltado para a encenação de maneira improvisada. Alguns espetáculos eram projetados para entreter o público nos intervalos de trocas das fitas dos filmes no cinema no início do séc. XX. De certa maneira, esta produção contribuiu para o desenvolvimento do jovem estado de Rondônia, a arte sempre presente em festas, cinemas, serenatas e saraus.
Vê-se que a história do teatro se confunde com a do cinema em Porto Velho, conforme se sabe:
As primeiras salas de espetáculos de Porto velho eram de cinemas e algumas ofereciam condições para representações teatrais, como o Cinema Caripuna, Cine Teatro Phoenix, Cine Rosas, Cinema Ideal, Cine Avenida, Cinema dos Padres, Cine Rocha, Cine Catega, Cine Brasil, Cine Teatro Resky, Cine Lacerda e outras salas que não foram registradas por nossos historiadores. (ELETRONORTE, 2005, p. 33)

Na capital, por volta de 1960, desenvolve-se o teatro radiofônico, feito através da Rádio Caiari que possuía um espaço destinado a produção teatral. Conforme afirma Arimar Souza de Sá, havia “na hora do almoço o Ronaldo Medeiros e seu teatrinho infantil, pela Rádio Caiari, a incitar o ânimo cultural da garotada” e segundo Alejandro Bedotti ”havia algumas cadeiras destinada ao público e se fazia teatro na rádio.”(Bedotti:2008)

2.2 Anos 80: O Auge do Movimento Teatral
Existe um consenso entre os artistas locais de que a década de 80 foi extremamente produtiva. Esse fato é atribuído à diversas razões: I - em 24 de maio de 1978, há a regulamentação da profissão de artista e técnico em espetáculos e diversões, através da lei nº 6.533, e pode ter surtido um efeito energizante para os artistas que passam a organizar-se em grupos; II - o intenso fluxo de pessoas que migravam de outros estado; e III - a criação da FETER - Federação de Teatro de Rondônia, em 1982, ajudou a organizar o movimento. Assim, no final da década de 70 e em toda a década de 80, pode-se encontrar grupos teatrais nas cidades situadas ao longo da BR 364.
Em 1976, há registros que comprovam a atividade teatral em Porto Velho. O grupo Terra ao qual pertencia o artista plástico Geraldo Cruz e o prof. Oswaldo Gomes Oliveira atuava, conforme afirma Geraldo, com um forte cunho político, em decorrência dos resquícios do ainda recente golpe de 1964. O grupo produziu um texto poético, também intitulado Terra, levando aos palcos a temática do meio ambiente. Alguns artistas mudavam-se para a região Norte fugindo da perseguição do eixo Rio-São Paulo, dessa maneira Rondônia ganhou alguns atores, diretores e autores nesse período.  Assim, contribui para uma nova formação no teatro local, a chegada de dois artistas do Rio de janeiro contratados pelo SESC para ministrar aulas de teatro, em Porto Velho, Alejandro Bedotti e Angela Cavalcante.
Esses profissionais, montam um grupo no Sesc, e trazem do Rio de Janeiro o espetáculo de bonecos Panelândia. Em seguida, fundam o grupo Cipó e montam um texto com temática regional Rio que é rio é... gente de Bedotti, que apresenta algumas lendas do folclore amazônico. Em entrevista Angela (2008) conta que:
Quando chegamos aqui, viemos pelo Sesc, a gente encontrou boatos, mas na verdade, não vimos nada. Sabia-se que já tinha o grupo Terra, O filho do homem(...) Então, criamos um grupo de teatro no sesc, anos depois, começamos a apresentar a Panelandia, que era um espetáculo do Rio de Janeiro que estava em cartaz nos parques e jardins lá, tinha bonecos tipo formas animadas. Juntamos as pessoas: era o Jango, Amauri, o Jota e nós, depois foi chegando mais gente. Então nós criamos o grupo Cipó para montar um espetáculo para a secretaria de educação. Era sobre temas amazônicos e se chamava Rio que é rio é...gente. Aí começou o trabalho com o grupo Cipó. (...) tivemos que ir embora do Território. No dia que estava virando Estado nós voltamos, então viemos pra cá (...) e nós fomos ficando, então nós montamos o Quebracabeça.

O grupo se desfaz e o casal funda, em 06 de setembro de 1982, o grupo de teatro amador Quebracabeça, que segunda consta, foi o primeiro grupo com personalidade jurídica do Estado. Durante o período em que ficou ativo montou diversos trabalhos, tais como Sapo Tarô-Bequê, Tempo bom com poesia pasquim, Banda Picolé, Rádio nossa de cada ouvinte, que eram apresentados em praças e auditórios.
O grupo Êxodo surge a partir de um grupo de jovens que reunia-se na igreja Nossa Senhora das Graças, em Porto Velho, e passa a funcionar como entidade jurídica em 25 de julho de 1984, com o nome de Clube Teatro Êxodo. Tem como sócios-fundadores José Monteiro, o jornalista Zogbi e Omedino Pandoja. O primeiro texto produzido foi O filho do homem, atualmente, O homem de Nazaré. O grupo possui cerca de 20 atores permanentes e durante a temporada de apresentações admite pessoas da comunidade que compõem o elenco. Ao final, são cerca de 300 pessoas em cena.
Na Porto Velho da década de 80, todos os dias surgia um novo grupo, pois o movimento teatral mostrava-se vivo e promissor. Cite-se os grupos que mais obtiveram destaque no período: O Grupo Porantin, ao qual pertencia o ator Jango Rodrigues que trabalhou com teatro de bonecos junto com Cláudio Vrena. Jango mantinha, com recursos próprios, um local denominado Espaço Curumim, destinado a receber artistas de outras localidade e a ser ponto de encontros culturais. O grupo É do mela volta ou do Mela continua? também esteve presente em muitos momentos, no teatro rondoniense, com a atriz Lenny Carneirinha de Lisboa.
O Água de Chocalho do ator Xuluca Dantas, foi um espaço pelo qual passaram muitos outros atores que atuam no teatro local, como é o caso de Greg Silva e Lú Rodrigues que participaram, em 1986, do Água. Trabalhavam com animação de festas e alguns projetos como Hoje tem espetáculo que trazia a peça  Pimpão, Alegria e confusão (Waldemar Silas, 1989) apresentados em escolas, no Teatro Municipal de Porto Velho e no Sesc.
Em Ji-Paraná, conforme afirma Firminetto Mendes, em 04 de abril de 1981, surge o Arterial seu registro data de 26 de setembro de 1984, fundado por Firmineto Mendes e sua irmã Floraci Mendes Silva. Uma das primeira peças criadas pelo grupo explora o improviso: os personagens Ourino Fedegoso e Caboeta saíam pelos bares da cidade encenando através de um roteiro, sem texto escrito. Em 1984, montam o espetáculo O sentir de nossa gente de Francisco Carlos Silva que foi apresentado em diversos municípios do estado, no Acre, Bahia, Espírito Santo e Mato Grosso.
O grupo, em cerca de 20 anos de história, montou muitos espetáculos de autores locais tais como: Firmineto Mendes(Ji-Paraná) com O manchão e o travesti, Eu não estou louco e Saga da Amazônia; Sheila Ferreira(Ji-Paraná) com Por Favor nos aposentem e Vilão? Aqui não!; Luiz Antônio de Araújo (Porto Velho) com Lulu e Mon’ Amor, Joaquim Inocente e O Menino Jardineiro e a Rosa do ano inteiro; e ainda Quando eu Crescer de Francisco Carlos Silva(Ji-Paraná), Perdidos na Floresta de Antero de Sales(falecido), Eu, Você e eles de Suely Rodrigues (Porto Velho) e Casamento em Crise de Rogério Casovik Viana (Ji-Paraná). Através de todas essas montagens o Arterial recebeu dois prêmios pela Funarte e um pela Petrobrás.
Em 1986, foi criado por Gregório Silva e Lucimar Rodrigues, em Ji-Paraná, o Grupo de Teatro Amador Fama que atuou por pouco tempo, montando os espetáculos: Canteiros(1986) texto de Romildo Monteiro(DF), Proibido ver I, Proibido ver II(1989) (adaptação de textos) e Yapuna-Caá, estrela das águas(1989) (texto adaptado). Seus fundadores mudam-se para Porto Velho, em função da força do movimento teatral na Capital, e começam a participar do Grupo Água de Chocalho. Cite -se ainda o Grupo Shallon que atuou no município em 1987 montando textos de cunho religioso.
                  Em Vilhena, encontra-se em 1986, o Group Novamente, do ator Bráz Divino,  escritor da primeira peça montada, Pé de Guerra, que dirigiu e atuou com Sandra Pedron. O grupo participou de congressos e festivais no Estado até 1993, ano que inicia um longo período de inatividade. Somente em 2004, Bráz produz o monólogo de Alexandro Bedotti A rede. O ator organiza periodicamente, durante o ano de 2006, o Retreta, em bares noturnos, uma espécie de Sarau em que qualquer pessoa pode participar com alguma atividade artística.
                   Na déc. de 80,  muitos grupos surgiram e outros tantos desapareceram em poucos anos: em Cacoal, registra-se o Sol criado por Claudio Vrena e o Essência das coisas(1986), de onde surge Chicão Santos; no cone sul, havia o Senzala, em Colorado do Oeste;  em Porto Velho, observa-se alguns grupos de teatro de bonecos como é o caso do grupo Porantim, Encenação, Teara, É do mela volta ou do mela continua? e o Cuniã. Além desses, havia atividade teatral em escolas e igrejas em diversas cidades, inicia-se nesses ambientes grande parte dos grupos do Estados.

2.3 Anos 90: O Teatro Estudantil
                   A década de 90 inicia-se com mudanças no cenário teatral, a maioria dos grupos criados anteriormente se dissolve, continuam existindo: o Arterial, o Êxodo, o Group Novamente. Paralelamente, surgem alguns grupos novos como o Raízes do Porto em 1992, fundado por Suely Rodrigues, que adquire grande espaço no estado e na região, pois participa de festivais no Acre e em Manaus. O primeiro texto montado pelo grupo é de Suely, Eu, vocês e eles. Desde sua criação, esteve ativo mantendo sempre um espetáculo diferente em cartaz, são cerca de 17 texto produzidos de 1992 a 2007. Grande parte são obras de artistas locais, porém também produziram clássicos infantis. Cite-se: Suely Rodrigues com Eu, Vocês e Eles, Minhoca na Cabeça, Histórias do Sítio, Mateus e Zulmira e Porções e Magias (adaptação das poesias de Nilza Menezes); Tira a canga do boi de Marcos Freitas; Confissões de um espermatozóide careca de Carlos Eduardo Novaes; A formiga Fofoqueira de Carlos Nobre; Flicts, a cor de Aderbal Júnior e Os saltimbancos de Chico Buarque de Holanda.
Porém, a década de 90 é marcada por outro tipo de manifestação teatral: o teatro estudantil. Registra-se, ao longo da década, diversos grupos e festivais que partem da iniciativa de alunos e professores de escolas particulares e municipais em todo o estado. Em Porto Velho, há a criação do Grupo de Teatro Oficina da Unir, dirigido por Angela Cavalcante, que neste período era integrante da DIAC/UNIR e ministrou três cursos para os alunos. O Oficina produziu, Revolução da América do Sul(1990) de August Boal, Os sonhos de Tom e Théo(1991) de Arnaldo Miranda e Hep e Heg - Os moleques(1992) de Arnaldo Miranda.
                   Fato importante também foi o surgimento do GRUTTA - Grupo Regional Unidos Trabalhando pelo Teatro Amador, em 1991, por iniciativa da Prof. Léia Leandro da Escola Risoleta Neves. Em 1994, o GRUTTA possuía, cerca de 48 integrantes, e mantinha apresentações no espaço do Teatro I do Sesc, além de uma oficina permanente semanal que desenvolvia atividades de reciclagem teatral. O espaço conquistado por esse grupo é relevante e a partir dessa iniciativa outras escolas também envolveram o teatro em suas atividades. Como ocorre na Escola Kepler, onde se desenvolve o Grupo Art Kepler, que destacava-se entre os grupos de escolas particulares. Ocorria, em Porto Velho, em 1993, diversos festivais de teatro estudantil, congressos e encontros de teatro amador. Além disso, o grupo organizou um Festival de Teatro  entre as escolas particulares de Porto Velho. Assim como o movimento teatral estudantil estava forte em Porto Velho, no restante do estado não era diferente.

2.4 Anos 2000: Uma nova fase
Ao longo de sua história, o teatro produzido em Rondônia acumulou experiências e desenvolveu-se em diversos sentidos. Os profissionais que atuam após a década de 90, buscam uma atividade teatral mais concisa, e muitos tem o  teatro como profissão ou ligam de alguma maneira sua atividade profissional ao teatro. A atuação de artistas como Alejandro Bedotti, Angela Cavalcante e Firminetto Mendes, durante mais de duas décadas, trouxeram para o teatro local grande desenvolvimento quanto à formação de atores, diretores e outros profissionais da área. O resultado dos cursos e oficinas ministrados por esses profissionais irão aparecer nesse momento. Os grupos que surgem, demonstram maior preocupação estética, mais responsabilidade com o público.
Assim, temos artistas antigos como Chicão Santos, formando grupos novos como a Associação Cultural O Imaginário, surgido em 2005, um grupo preocupado com a formação de seus atores e da platéia, que viaja o estado promovendo oficinas e divulgando seus espetáculos, além de participar de festivais em outros estados. Junto com o Raízes do Porto são atualmente os dois grupos mais conhecidos e ativos de Porto Velho.
Encontra-se também, em Cacoal, atividade teatral com o grupo Risoterapia, formado em 2003, pelo ator Edimar Oliveira que trabalha com texto de comédia, todos escrito pelos próprios atores. Desde sua criação, manteve-se ativo, montando espetáculos periodicamente,  são mais de 13 peças, dentre elas, cite-se: Penosa do sul vai às urnas, Quem matou Tenório?, O pecado da Carne, Homem por um fio, O Madrasto, O escritor, Programa de Quinta, Pequenos cérebros, grandes bobagens e Dolores da Madrugada. Assim como o grupo Nada d+ da atriz Tainah Musa Lobato que é formada em Artes cênicas e além do trabalho com o grupo de teatro produz oficinas paralelas.
                   O Cone sul do Estado, ainda possui uma produção insipiente. Apesar de existirem grupos atuantes, em Vilhena, a produção é pequena e em sua maioria de cunho religioso. Um exemplo é o grupo The Crasy formado em meados de 2000 por jovens da Igreja católica. Assim como o Manah, grupo desenvolvido por pessoas da Igreja Comunidade Cristã que além da atividade teatral engloba a música gospel. Também de cunho religioso é o grupo Tempus, criado por atores oriundo do Manah. O Canaã, de criação de Josemar Fernandes, surgiu de atividades estudantis, dentro da Escola Zilda da Frota Uchôa.
Além desses, em Vilhena atua, desde 2004, o grupo de teatro Wankabuki surgido da iniciativa do professor Oswaldo Gomes Oliveira e das  acadêmicas da Universidade Federal de Rondônia Valdete Sousa, Diomar Soares e Núbia Rodrigues, em 16 de agosto de 2003. O grupo montou Morte e Vida Severina uma adaptação do texto de João Cabral de Melo Neto por Luiz Antônio de Araújo, A Lenda da Ecologia, texto do Prof. Oswaldo Gomes, e o texto Tragédia no Lar adaptação das poesias de Castro Alves por Valdete Sousa.

3. CONCLUSÃO
                  Conclui-se então que o início das artes cênicas no Estado ocorre sem planejamento ou teoria a seguir. Mesmo assim, houve um aprimoramento e surgiram técnicas, textos e grupos ao longo da história. Do teatro dos grupos do Madeira-Mamoré e de Dona Labibe, poucos dados restaram.         As apresentações para o público dos cinemas portovelhenses da década de 50, ocorridas nos intervalos das trocas de fitas, serve como marca de um período e do comportamento de um povo. Assim como, é prova da evolução do teatro local que, nesse momento, migra das casas e clubes para o palco dentro dos cinemas. O público, também é outro. Quem vai ao cinema tem o intuito da diversão, o teatro passa a ser mostrado para um público seleto e elitizado.
                  O período promissor do teatro de Rondônia firma-se nas formações de grupos, prevalece a “idéia coletiva”. Assim, as décadas de 70, 80 e 90 serão repletas de formações e desaparecimentos de grupos. Esse movimento, serviu para que os profissionais se aprimorassem, são geradas oficinas, cursos, discussões, festivais, seminários e todo tipo de atividades que sem a coletividade ficaria mais difícil ocorrer. Nos últimos anos,  observa-se uma mudança de comportamentos. Ainda há, certamente, muitos grupos desenvolvendo-se, principalmente no interior do estado, mas vigora os princípios de individualidade. Os profissionais das artes cênicas estão aprendendo a trabalhar como nos grandes centros culturais: um produtor que contrata diretor, atores, iluminador, e todos os profissionais necessários.
                  Fato é que as produções rondonienses existem e possuem valor reconhecido, tanto dentro do estado quanto fora dele. É o que se vê nas participações feitas por grupos locais em festivais no Acre, Manaus, Recife, entre outras localidades. Dessa maneira, resta concluir-se que esta pesquisa comprova a existência das artes cênicas de Rondônia a qual segue uma linha evolutiva paralela aos acontecimentos no Brasil, com suas particularidades e necessidades.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARTAUD, Antonin. O teatro e seu duplo. São Paulo: Perspectiva, 2005.
ASSIS, Machado. Críticas teatrais. São Paulo: LEL. Proveniente de www.dominiopublico.gov.br [s.d.]. p.200-229.
BERRETTINI, Célia. O teatro ontem e hoje. São Paulo: Perspectiva, 1980.
BORIE, ROUGEMONT & SCHERER. Estética teatral: textos de Platão a Brecht. 2ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2004.
BRECHT, Bertold. Diário de trabalho. Vol. I. Rio de Janeiro: Rocco, 2002.
BORZAKOV, Ary Pinheiro – DIAS, Antônio Gonçalves(org.). Compêndio da história e cultura de Rondônia. Vol. III. Porto Velho: FUNCER, 1995.
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[1] Graduada em Letras pela Universidade Federal de Rondônia. E-mail: valdetesous@hotmail.com

domingo, 23 de fevereiro de 2025

Políticas Públicas para a Cultura: o caso do teatro

 

Adailtom Alves Teixeira

A arte existe porque a vida não basta.

Ferreira Gullar

A cultura é um dos pilares fundamentais para a construção da identidade de um povo, e o teatro, como uma das expressões artísticas mais antigas da humanidade, desempenha um papel crucial nesse processo. Porém, o modo de produção que regula nossas vidas não é muito favorável a algumas artes, por isso mesmo é importante ressaltar que nem tudo cabe no mercado, e o teatro, em particular, é uma linguagem que ainda mantém forte vínculo com o artesanal, o humano e o coletivo. Desse modo, depende essencialmente do apoio público para sua sobrevivência e desenvolvimento. As políticas públicas voltadas para a cultura são fundamentais, especialmente para o teatro, mas ainda padecemos de políticas estruturantes, apesar do direito assegurado na Constituição Federal. Investir em arte e cultura é caminhar na direção de uma sociedade mais inclusiva e reflexiva.

O teatro é uma arte milenar que transcende o entretenimento. Ele é um espaço de diálogo, de questionamento e de descoberta de aspectos profundos do humano. Por meio da linguagem teatral, somos convidados a refletir sobre nossa existência, nossa história e nossa relação com o/a outro/a e o mundo. No entanto, essa forma de arte não se sustenta apenas pela lógica do mercado. Diferentemente de produtos culturais massificados, o teatro não gera lucros expressivos, mas é essencial para a formação crítica e sensível dos/as cidadãos/ãs. É aqui que as políticas públicas se tornam indispensáveis, garantindo que essa linguagem artística continue viva e acessível para todos/as.

Um exemplo emblemático de política pública bem-sucedida nessa área é o Programa de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo. Criado em 2002, esse programa foi pioneiro ao destinar recursos especialmente para grupos teatrais, permitindo que coletivos artísticos mantivessem suas pesquisas e produções. O programa não apenas capilarizou o teatro pela cidade, levando espetáculos para regiões periféricas, mas também fortaleceu a cena teatral paulistana, tornando-a uma das mais vibrantes do país. Ao investir em grupos, o programa reconheceu a importância do trabalho coletivo e da continuidade das pesquisas artísticas, que são fundamentais para a evolução da linguagem teatral. No entanto, o programa vive sob constante ataques, especialmente nos governos de direita.

A necessidade da arte é intrínseca ao ser humano. Buscamos a beleza, a reflexão e a conexão com o/a outro/a, e o teatro nos oferece isso de maneira única. A arte é diversão, mas não é só isso, é também conhecimento, é um modo de vivenciarmos uma experiência, de nos completarmos por meio do/a outro/a. a arte nos permite explorar outras perspectivas, questionar verdades estabelecidas e nos reconhecer na diversidade das experiências humanas. Serve para que critiquemos o mundo existente e possamos imaginar outros mundos possíveis. Por isso, mais uma vez, a arte não pode ser submetida exclusivamente à lógica do mercado, que tende a priorizar o lucro em detrimento da diversidade e da qualidade de vida. O Estado tem um papel crucial em garantir que a arte seja acessível e plural, sem se restringir aos interesses comerciais.

Além disso, o investimento público em cultura gera impactos positivos que vão além do campo artístico. Quando um festival de teatro é realizado, por exemplo, os recursos circulam por diversos setores da economia local: restaurantes, hotéis, transportes e comércio em geral são beneficiados. Diferentemente de outras áreas, onde o investimento público pode gerar concentração de riqueza, na cultura os recursos são distribuídos de maneira mais democrática, promovendo o desenvolvimento econômico e social. O investimento em cultura pode ser revertido de muitas maneiras, afinal cidadãos/ãs cultos/as, custam menos para o Estado em outras áreas, como a da saúde, pois se cuidam melhor, cuidam melhor da cidade e do patrimônio público. Em geral nos mirarmos em outras sociedades, elogiando sua cultura, mas pouco conhecemos acerca dos investimentos desses país em arte e educação.

A relação entre arte e educação é um ponto crucial. Ambas precisam do olhar especial do Estado, pois são fundamentais para a formação de cidadãos críticos e conscientes, por isso mesmo estão asseguradas na Constituição Federal brasileira. Submeter a arte e a educação à lógica do mercado é correr o risco de excluir aqueles/as que não têm acesso a recursos financeiros, perpetuando, portanto, desigualdades. O teatro, em particular, é uma ferramenta poderosa de educação, capaz de incluir e empoderar indivíduos e comunidades. Logo, se o teatro não muda a realidade, pode mudar os sujeitos e estes podem engajar-se para transformar sua cidade. Ao logo da história o teatro sempre foi uma poderosa ferramenta pedagógica na transformação de valores, como exemplo basta citar dois momentos históricos, primeiro entre os gregos na antiguidade clássica, bem como na ascensão da burguesia como classe hegemônica na modernidade.

Mais uma vez, a arte é um elemento central na constituição da identidade local. Quando pensamos em um lugar e sua gente, o que nos vem à mente é sua cultura: suas tradições, suas expressões artísticas, sua maneira única de ver o mundo. O teatro, como expressão cultural, contribui para a construção dessa identidade, refletindo as particularidades de uma comunidade e ao mesmo tempo conectando-a ao universal. Políticas públicas que fomentam o teatro e as demais artes estão, portanto, investindo na preservação e na valorização da identidade cultural de um povo. O campo das artes é a última trincheira que nos separa da barbárie, por isso mesmo, em momentos extremos os artistas são sempre os primeiros a serem atacados.

Em um mundo cada vez mais dominado pela lógica do mercado, é essencial defender a arte como um bem comum, que não pode ser reduzido a uma mercadoria. Em um mundo cada vez mais dominado pelo tecnológico, é essencial defender uma arte que promova o encontro humano. O teatro é uma arte da presença e tem a capacidade de tocar corações e mentes, de questionar e transformar pessoas – ao menos quem faz – mas, para tanto, precisa do apoio do Estado para continuar existindo e cumprindo seu papel na sociedade. Políticas públicas como o aqui citado, Programa de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo, é um bom exemplo e deve ser conhecido, pois é um modelo possível de política pública – aliás, a partir dele, outras linguagens artísticas lutaram e conquistaram também seus programas de fomento, como a dança, o circo e mesmo toda um território, como o fomento à periferia. Cabe a nós, como sociedade, reconhecer a importância dessas iniciativas e lutar para que elas se ampliem e se disseminem em outras cidades, garantindo que a arte continue a ser um direito de todos e um reflexo da nossa humanidade. Porto Velho, por exemplo, tem uma lei que foi criada tomando como modelo o Programa de Fomento ao Teatro, ainda em 2009, trata-se da Lei 1820/09. No entanto, a lei nunca foi regulamentada, nunca saiu do papel. No entanto, a lei nunca foi regulamentada, nunca saiu do papel. Talvez seja um bom momento para os artistas de teatro da capital conhecerem a lei, fazer a comparação e lutar pelos devidos ajustes e sua regulamentação, já que estamos em início de nova gestão.