AUDIÊNCIA
PÚBLICA DE CULTURA
Adailtom Alves Teixeira
Cumprimentos.
A Constituição de um país é um
arcabouço político jurídico que orienta leis, normas e, por consequência,
também as políticas públicas. Antes, porém, de se constituir em um corpo
jurídico, ela é um pacto que a sociedade estabelece entre si.
O Brasil, no pacto que
originou a CF de 1988, colocou a CULTURA como direito fundamental, pois ela
está mencionada do Art. 5º, Dos Direitos e Garantias Fundamentais.
Quanto às disposições
específicas sobre a Cultura, dois outros artigos constitucionais, 215 e 216, no
qual afirma que o Estado deve “garantir a todos o pleno exercício dos direitos
culturais”, mais, garantir o “acesso às fontes da cultura nacional”, tendo,
portanto, a obrigação de “apoiar e incentivar a valorização e a difusão das
manifestações culturais”.
Ora, é justamente por meio das
políticas públicas que esse apoio, incentivo, valorização e acesso podem ser
garantidos. Se é direito de todos e dever do Estado, o caminho é via política
pública de cultura. Afinal, é por meio de tais políticas que se transformam os
direitos em práticas concretas, ao distribuir recursos e oportunidades. Em
resumo: a função da política pública é mediar a relação entre Estado e
sociedade, transformando demandas sociais em ações que melhorem a vida
coletiva.
Nesse sentido, essa casa de
leis é fundamental. Seja por ser representante do povo, seja por criar as leis,
seja porque vota o orçamento do estado, seja porque fiscaliza o Executivo. E é
preciso dizer que, infelizmente, o Legislativo não tem dado a atenção que
merece o campo cultural. Vale mencionar que a cadeia produtiva da cultura e das
economias criativas representam mais de 3% do PIB brasileiro, além de impactar
diretamente em outros setores, para citar apenas um: a indústria do turismo.
Algumas pesquisas demonstram o
alto retorno econômico para o estado quando investe-se em cultura. A FGV
realizou uma pesquisa sobre a Lei Rouanet e constatou que de cada real
investido, há um retorno de R$ 1,59; o governo do RJ em pesquisa acerca da Lei Paulo
Gustavo contatou que de cada real investido teve um retorno de R$ 6,51; já o
Estado de São Paulo, de cada um real, teve retorno de R$ 1,67 (O Globo). Ou
seja, as pesquisas demonstram quão positivo economicamente é o investimento em
cultura. Poderia citar também o impacto positivo na segurança, na saúde e
outras áreas, mas o tempo é curto.
Senhor(a) presidente (a), é
urgente que essa casa dê atenção ao Fundo Estadual de Desenvolvimento da
Cultura do Estado de Rondônia – FEDEC, que vem enfrentando problemas desde sua
criação, bem como dê atenção às políticas nacionais, como a PNAB – Política
Nacional Aldir Blanc, que faz com que chegue recursos significativos ao estado,
mas não vem sendo cumprido a contento, seja porque não executam totalmente,
seja porque executam fora do prazo.
Cabe mencionar que das
políticas emergenciais, Lei Aldir Blanc e Paulo Gustavo, também não foram
executados todos os recursos, devolvendo dinheiro à União. Quem perde, é
sobretudo a população rondoniense, pois os artistas, é importante que se diga,
assim como a execução de uma política pública, eles são o meio para que a
população acesse as manifestações culturais aqui produzidas. Os/as artistas,
os/as produtores ao terem um projeto contemplado em um edital não ficam com o
recurso para si – é obvio mas precisa ser dito –, ele EXECUTA UM PROJETO que
faz com o direito básico de acesso garantido pela Constituição se cumpra,
chegue até os/as cidadãos. Além de impactar economicamente diversas pessoas e o
próprio PIB do estado.
Amir Haddad, um homem de
teatro com mais de 60 anos de profissão, costumar afirmar que, “os militares
fazem a pátria, os políticos fazem um país, mas só os artistas fazem a nação”. Isso
porque a cultura constitui a identidade de um povo e sua arte é cimento
fundamental dessa construção. A arte sempre chega primeiro.
Para encerrar, é preciso nos
mirarmos em bons exemplos de políticas públicas de cultura em outras partes do
Brasil. Quando olhamos, por exemplo, a potência do audiovisual pernambucano ou
a efervescência do teatro paulistano, não podemos esquecer que por trás de
ambos há uma sólida política pública. Que Rondônia possa seguir essa boa
caminhada, que com certeza passa e precisará das decisões dos parlamentares
dessa casa. Penso que a população de Rondônia merece acessar a produção de
artistas tão diversos e potentes como o que temos no estado, para tanto, há que
haver políticas públicas de cultura efetivas para o setor cultural.
Muito obrigado!
_________________
* Disponibilizo aqui a fala realizada durante a Audiência, que ocorreu no dia 10/09/2025 às 14h na Assembleia Legislativa de Rondônia a pedido do Conselho Estadual de Política Cultural (CEPC) em articulação com o Gabinete da Deputada Cláudia de Jesus.
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