Édier William[1]
Palavras,
por meio delas acreditam alguns que o universo foi construído e é por meio
delas que o mundo gira. Palavra no livro, palavra no copo, no rádio, no céu.
Palavra escrita, palavra falada, cantada. São as palavras que contam a vida e
inventam histórias.
Saber
usar as palavras para criar histórias, no entanto, pode ser considerado um dom
que poucos têm. Uma história mal contada é como comer um banquete sem tempero,
ouvir uma música sem poesia... Agora imagine saber contar uma história sem usar
um único fonema. É exatamente assim que “Onde morrem os pássaros” é encenada,
sem palavras. Assisti esse espetáculo em sua estreia no Teatro 1 do Sesc
Esplanada.
Saber
contar uma história por meio de imagens e movimentos no teatro, talvez seja uma
das coisas mais difíceis. Poucas vezes assisti algum espetáculo com essa
proposta que tenha conseguido metade do que Fabiano Barros, dramaturgo e
diretor do espetáculo, conseguiu.
O
espetáculo reflete sobre um dos maiores males desse século, a depressão. Um
homem, interpretado pelo ator Artur Neto, mergulhado em solidão vive em uma
rotina monótona e surrealista, que aos poucos vai submergindo o espectador em
uma profunda melancolia poética. Em dado momento uma mulher, Laura Martins, surge
para trazer um pouco de vida para o homem, mas é rejeitada por diversas vezes,
ela tenta ajudá-lo a sair do fundo do posso do looping em que entrara, sem
sucesso.
Trazendo
para nossa realidade é como estar presenciando no palco uma pessoa que acorda e
não tem forças para se levantar da cama, está aprisionada ao celular, à TV, ao
quarto. Uma pessoa que sai do quarto para fazer o xixi que não tem, pois não
bebeu água, para comer o que não tem na geladeira, pois não saiu para comprar
nada, que volta ao quarto e coloca uma música que não ouve, pois está perdido
na timeline de alguém que não conhece, desejando ter algo que nunca terá
sem se levantar para trabalhar.
Há
genialidade na forma que Fabiano Barros conta a história juntamente com os não
menos geniais atuadores. É necessário ressaltar que a dramaturgia sonora que
ficou a cargo de Rinaldo Santos é espetacular, consegue causar inúmeras
sensações na alma e na carne dos espectadores. A única ressalva sobre a música
é a sua execução ao vivo, à mostra, ao lado do cenário, isso desvia um pouco da
concentração de alguns espectadores.
Foto divulgação. |
A
iluminação e cenografia são clássicas, uma escolha do diretor que funciona, mas
poderia trazer mais impacto se fossem contemporâneas, já que o espetáculo
aborda questões extremamente atuais.
Um
espetáculo, durante sua jornada de apresentações, passa por um processo de
amadurecimento, esse espetáculo, que já nasceu maduro, poderá se tornar ainda
mais impactante, conforme o ritmo for melhor definido e o espetáculo, que teve
mais de uma hora e vinte minutos, se torne preciso quanto ao que precisa ser
dito por meio dos movimentos em cena.
Onde
morrem os pássaros? Assista e descubra, ou quem sabe fique com ainda mais
dúvidas, mas tenha certeza de que assistirá uma obra de arte incrível!
[1]
Édier
William Medeiros da Silva, graduado em Letras, FIAR (2012), Especialização em
Metodologia do Ensino Superior, FAEL (2016), Técnico em Produção Audiovisual,
CEP (2015). É escritor, dramaturgo, ator, diretor e produtor cultural.
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