Adailtom Alves Teixeira[1]
Carlos Macedo, o Mado, filho da terra, um autêntico beradeiro,
chega ao mundo em 1953. Em suas memórias três momentos são fundamentais: a
infância em que cria todo um imaginário sobre Porto Velho, a adolescência,
momento de afirmação de sua identidade e os anos 1980, momento da sua formação política. Dessas três etapas, pode-se dizer que o artista Mado passou da
descoberta do quintal de sua casa, ampliou para a cidade e depois descobre o
Brasil e a América Latina, como frisou.
Além dos três momentos, quatro linhas-escolas-linguagens lhe
acompanha: a poesia, o teatro, a música e pedagogia popular. Da primeira, muito
presente na sua forma de falar, desenvolve o que chama de poesia falada. Da
música, apesar de não ter desenvolvido técnica para tocar nenhum instrumento,
afirma ter desenvolvido uma sensibilidade para o escutar e isso lhe acompanha no
seu modo de ser e de construir sua arte. A terceira, a pedagogia popular, tem
como referência o método Paulo Freire, que aprendeu e desenvolveu junto aos
movimentos populares na década de 1980, aí, pode-se afirmar, que descobriu sua
classe e por meio dessa pedagogia pode ajudar a organizar pessoas para se
expressarem com teatro as suas reais demandas, sempre em uma busca por
liberdade.
A liberdade é algo caro ao poeta Mado, pois mesmo quando lhe
é perguntado de forma objetiva, em certo enquadramento cartesiano que cabia ao meu papel de mediador, o
artista não se intimidava e contornava ou criava outros percursos para expressar ou (des)responder sobre o perguntado, fugindo da prisão das caixas de enquadramento da academia.
Rico de histórias, carrega a memória de Porto Velho em seu
corpo, em seu vocabulário, em suas palavras geradoras; estas, as palavras, saem
de sua boa e de seus poros com uma dramaticidade ímpar, na medida em que são
denúncias, mas são também carregadas de um lirismo ribeirinho-caboclo-amazônida-sul
americano, em enfrentamento direto a tudo que nos rodeia e que é hegemônico, logo, oprime. Seu teatro, se dá pelas margens, escolha que fez sabendo do
alto preço a ser pago, mas daí advém sua liberdade.
Nossa intenção no projeto
Conversa de Quinta não é hierarquizar a cena, por isso mesmo a ideia é levantar
todas as formas teatrais e todos aqueles que produziram ou estão produzindo. Assim, mesmo o adjetivo “marginal” aqui expresso, não visa
criar um juízo de valor, mas expressar o que Mado chamou de “outro caminho”. Para ele, existiam, sobretudo nos anos 1980 e 1990, duas cenas: uma que ocupava os lugares ditos “próprios” para essa linguagem, e o teatro que ia por "outros caminhos". Ainda que, talvez pudéssemos afirmar, que toda a produção daqui, em relação ao eixo sul-sudeste, pudesse ser vista como marginal. O caminho escolhido por Mado é, na verdade, aquele que não separa a arte da vida, não separa a arte da política e, por isso mesmo, via de regra, negligenciado pela história oficial.
O poeta, ator e diretor Mado, continua a produzir, seja realizando suas oficinas juntos às comunidades, movimentos populares, seja apresentando-se nos espaços culturais da cidade, seja dirigindo, inclusive em contato com uma geração que chegou a pouco à cena. Após nossa conversa, no fim de semana (30 de setembro e 1º de outubro), haverá estreia de uma peça que
escreveu e dirigiu: Inventamos de se ver,
com Amanara Brandão e Rafael Barros, no Espaço Cojuba.
Esse encontro ocorreu no dia 28 de setembro, na Sala do Piano - Unir Centro. Acompanhe toda a conversa no link abaixo:
[1]
Professor do Curso Licenciatura em Teatro da Universidade Federal de Rondônia; Mestre
em Artes pela Unesp; ator e diretor teatral.
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