Adailtom Alves Teixeira[1]
O autor e diretor Fabiano Barros foi o
convidado do Conversa de Quinta: arte e
cultura em debate do dia 31 de agosto de 2017. Pernambucano de Recife, desde
criança esteve envolvido com a arte teatral, no entanto, como afirmou, sempre
foi um “péssimo ator”, daí sua escolha pela escrita. A direção também veio
por acaso, “como ninguém queria encenar meus textos, eu tive que dirigir”, foi
a sua afirmação no encontro que provocou muitas reflexões e risadas nas pessoas
que ali estavam presentes.
Fabiano chegou a Porto Velho ainda muito
jovem, 19 anos, em 1990. Enturmou-se rapidamente com os fazedores de teatro da
cidade, dentre os quais citou Heleninha e Francis Madson. Lembrou com saudade
quando saía pela Avenida Sete de Setembro, no centro de Porto Velho, catando
papelão para construir seus cenários. Da mesma forma que lembrou com alegria de
quando pediu pra mãe, ainda em Recife, lhe pagar por um curso de teatro, já que,
praticamente fugiu do curso de enfermagem ao presenciar um parto. A mãe lhe
pagou o curso, o que lhe rendeu muitas refeições à base de cuscuz e charque,
pois, na sua memória deveria equivaler a 30% do que ela ganhava.
Essas lembranças do artista provocaram momentos
agradáveis, com muito riso, mas nos faz refletir e pensar sobre a condição de
artista, sobretudo de teatro, isto é, de como somos forjados. Seja pela
ausência de uma política de formação nesse campo artístico, ainda não
disseminado em todo o país, seja pela desvalorização do campo das
artes no Brasil. São muitas as reflexões que podemos fazer e muitas as
conclusões a que podemos chegar a partir das memórias apresentadas por Fabiano
Barros: como se forma um artista? Como essa formação de vida influenciará sua
produção futura? Quais parceiros, pessoas, mestres são importantes nessa
caminhada? O autor citou alguns.
Mas foi com os jovens de teatro que encontrou em Porto Velho quando aqui chegou que criou o grupo Fiasco, com o
qual vem trabalhando desde então: escrevendo, dirigindo. Os atores e atrizes já
não são os mesmos, mas é com o Fiasco que tem levado adiante sua experimentação.
O autor falou um pouco do seu processo
de escrita: ele vai acumulando a temática, o assunto, lendo, pesquisando,
ouvindo e criando em sua cabeça e quando decide escrever, sai todo de uma vez,
aos borbotões, ou como se costuma dizer: em uma sentada. O autor afirmou que não
consegue escrever aos poucos.
Fabiano graduou-se em Licenciatura em
Teatro (2013) pela Universidade de Brasília, um curso à distância, em parceria
com a Universidade Federal de Rondônia, e o primeiro nessa área em Rondônia.
Seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) foi justamente sobre o que vem
pesquisando e se debruçando em suas criações e que tem chamado de “humanização
dos mitos e lendas amazônicos”. A partir dessa pesquisa, por exemplo, foram criados os
espetáculos Nove Luas e Ópera Beradeira. O primeiro abordando a
lenda do boto e o segundo a lenda da Iara.
Em seu TCC, Fabiano defende que os mitos
e lendas são “escapatórias de comportamentos inadequados”, no entanto, compõem a
identidade cultural dos amazônidas: As lendas como as do boto, da cobra grande,
da vitória-régia, do guaraná, Ajunicaba, a origem da mandioca, a origem do rio
Amazonas e tantas outras, são mitos de origem e fazem parte do conjunto de
conhecimento do homem amazônico. (...) A nível nacional é impossível tentar
retratar a Amazônia sem mencionar nem retratar seus contos e lendas”.
Fabiano Barros também falou de sua
experiência em gestão de cultura. Ele esteve por anos à frente da Coordenação
de Cultura do SESC Rondônia, onde pode coordenar e criar muitas ações para o
teatro, mas não só para essa área. Atualmente trabalha na SEJUCEL onde, como afirmou, vem buscando
desenvolver ações que possam permanecer no campo das políticas públicas, embora
reconheça que a máquina do estado seja mais complexa e difícil.
Acompanhe o encontro e a conversa no
link abaixo:
[1] Professor
do Curso Licenciatura em Teatro da UNIR; Mestre em Artes pela Universidade
Estadual Paulista (UNESP); coordenador do projeto Conversa de Quinta.
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