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quarta-feira, 11 de junho de 2025

A cidade e o teatro

 

Adailtom Alves Teixeira[1]


Precisamos ir para as ruas! Temos de destruir esta arquitetura que separa os homens.
Julian Beck

Vivemos tempos em que as ruas voltam a pulsar. Em Porto Velho, a Praça Pequeno Vitor Emanuel, no bairro São João Bosco, foi recentemente ocupada por dois importantes eventos: o Festival PalhAçaí, realizado pelo Teatro Ruante nos dias 30 e 31 de maio e 1º de junho, e o Festival Amazônia Encena na Rua, realizado pelo O Imaginário entre os dias 4 e 8 de junho. Ambos devolveram à cidade aquilo que lhe pertence: o encontro entre o artista e o povo, o riso e a denúncia, o jogo e a reflexão. Foram noites agradáveis, sem paredes, sem palco elevado, sem ingresso.

Teatro Ruante - Selma Pavanelli, palhaça Tinnimm
Foto Maycon Moura

Os citados festivais não são apenas momentos de celebração artística, são afirmações políticas e existenciais. Em um mundo marcado pelo isolamento, pela especialização extrema e pela alienação — tristes heranças do capitalismo tardio —, ir para a rua é um ato de resistência. A arte, especialmente o teatro de rua, é uma ferramenta de humanização: cria laços, desafia certezas, convoca o coletivo.

O teatro de rua rompe com os muros simbólicos e concretos que separam as pessoas. Ele não exige trajes específicos, nem silêncios reverentes. Ele se impõe pelo gesto e pela palavra no meio da cidade, onde a vida pulsa. Nesse sentido, como bem apontava o ator e diretor Julian Beck, há dois tipos de teatro: o que adormece e o que desperta. Penso que o teatro que desperta é aquele que escolhe a rua como espaço de manifestação e a cidade como interlocutora. Evidente que tal pontuação não visa criar uma hierarquização entre os diversos teatros, não é esse o objetivo.

Historicamente, o teatro sempre esteve atrelado à polis. Na Grécia antiga, era uma ferramenta de reflexão cívica; na Idade Média, tomava as praças e ruas durante os mistérios religiosos e os ciclos festivos. Hoje, ao se colocar nos espaços abertos, ele pode recuperar esse papel de catalisador do debate público. No encontro entre artistas e público na cidade, seus problemas aparecem, como o transporte precário, a insegurança, a invisibilidade das populações marginalizadas, a especulação imobiliária e o abandono das praças públicas, mesmo que não estejam em cena.

Cabe mencionar que o teatro de rua é uma arte marginal, no melhor sentido da palavra, pois desafia a lógica mercantil ao oferecer acesso livre e transformar o transeunte em espectador, ao mesmo tempo em que ressignifica o espaço urbano como lugar de fruição estética e partilha simbólica. Ele descentraliza a arte não apenas geograficamente, mas também socialmente. Permite o acesso a quem não tem o hábito (ou o privilégio) de frequentar as salas fechadas.

O Imaginário - Edmar Leite, Flávia Diniz, Amanara Brandão
e Chicão Santos - Foto Maycon Moura.

Porto Velho, ao sediar festivais como o PalhAçaí e o Amazônia Encena na Rua, reafirma sua vocação para a arte pública e popular. Em meio ao concreto quente da cidade e o mormaço amazônico, surgem vozes, cores, gestos que nos tocam e nos fazem lembrar que o teatro é (e sempre foi) a arte do encontro.

Mais do que nunca, teatro de rua e cidade estão umbilicalmente ligados. A praça é palco, a rua é cenário, o público é cúmplice. E essa relação não é apenas estética, mas ética. Ao nos reunirmos no espaço aberto para rir, chorar, pensar e resistir juntos, criamos a possibilidade de uma cidade mais humana, mais sensível, mais consciente.

Vamos pra rua!



[1] Professor da Universidade Federal de Rondônia; mestre e doutor em Artes pelo Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (Unesp); ator, diretor e dramaturgo; articulador e um dos fundadores da Rede Brasileira de Teatro de Rua.

domingo, 8 de junho de 2025

A Força da Água jorra resistência popular

 

Adailtom Alves Teixeira[1]

Água não falta. Ela é negada.

Essa é a chave política — e histórica — que o espetáculo A Força da Água, do grupo cearense Pavilhão da Magnólia, leva ao público, revelando uma engrenagem social antiga, mas ainda em funcionamento. O coletivo com duas décadas de existência (haja resistência para tal longevidade em um país que padece de políticas públicas estruturantes para a cultura) e destaque nacional do Prêmio Shell 2025, justamente com o espetáculo em tela, aportou em Porto Velho dentro da programação do Palco Giratório, realizado pelo Sesc.

O espetáculo aborda as secas do Ceará — iniciando com foco na grande estiagem de 1877-1879, mas avançando por outros períodos — o trabalho reencena uma velha história de negação, deslocamento, repressão e invenção de inimigos. História que ainda escorre pelas frestas do presente.

A Força da Água, imagem retirada da internet.
Foto de Sérgio Lima

A escolha por uma cena documental, modalidade teatral ainda pouco praticada, exige que olhemos para as contradições expostas: entre o discurso oficial e a experiência vivida, entre o Estado e o povo, entre a necessidade coletiva e os interesses privados. O grupo, com cinco artistas em cena – Denise Costa, Eliel Carvalho, Jota Junior Santos, Nelson Albuquerque e Silvianne Lima –expôe como a falta d'água nunca foi um fenômeno puramente natural, mas o resultado de escolhas políticas e econômicas que sistematicamente colocaram a vida do povo como última prioridade — ou ainda, quando estes se organizam, tornam-se obstáculo à ordem vigente.

A opção estética de Pavilhão da Magnólia recusa o lugar comum do espetáculo neutro e mergulha numa linguagem de confronto. Aliás com a bela e boa dramaturgia e direção de Henrique Fontes, põe em cena uma teatralidade popular, uma narrativa épica e o corpo político em cena. Sim, pois os corpos levam consigo suas territorialidades. Não há personagens, mas há interpretação e muita teatralidade, operando o distanciamento brechtiano e alternando entre o testemunho e a fabulação, a memória e a denúncia, a metáfora e o discurso direto. A seca serve de testemunho histórico de um Estado que desertifica vidas para concentrar riquezas.

A montagem tem plena consciência da sua dimensão pedagógica e dialética. Faz do palco um espaço de historicização e questionamento: por que a água — condição sine qua non da vida — sempre foi negada ao povo cearense? (Tantas perguntas podem ser feitas sobre outras tantas negações...) E por que, diante de qualquer tentativa de organização popular, o Estado sempre recorreu à força repressiva e à construção de fantasmas ideológicos, como o comunismo, para legitimar a violência? Ou, ainda, valendo-se de líderes carismáticos para desmobilizar... (havemos sempre de pensar no presente!)

A encenação utiliza elementos simples e estilizados, canos, pedra, água (ao final, quando escorre um pequeno fio em uma pedra dura), mas não cai na armadilha do miserabilismo. Ao contrário: politiza a fome, a sede e outras tantas negações. Revela como o drama daquela população (só da cearense?) foi funcional à manutenção de um projeto de poder.

A seca de 1877-1879, com a qual se inicia a relação documental, dialoga diretamente com a realidade amazônica. Pois, naquele momento, ao invés de políticas assertivas, o que se viu foi o uso do deslocamento forçado de milhares de nordestinos para os seringais, no chamado primeiro ciclo da borracha. E é aí que, ainda que não mencione, o espetáculo alcança o nosso lugar com vigor crítico: lembrando que o Norte do país foi, historicamente, destino de uma diáspora forçada e silenciada, marcada pela submissão e pela espoliação. Ou, como afirma certo ditado popular: o Norte é neto do Nordeste.

A Força da Agua, imagem retirada da internet.
Foto de Sérgio Lima

O público de Porto Velho, pequeno, porém caloroso, que recebeu o espetáculo na noite de 7 de junho, no Teatro Banzeiros – aliás, bem significativo que um espetáculo sobre a água tenha ocorrido em uma casa com esse nome –, presenciou a representação e o reavivamento de sua memória, pois foi convidado não apenas a assistir, mas a reconhecer-se como parte de uma história que não começou (e nem termina) nos limites geográficos de um estado. A seca do Nordeste, especialmente do Ceará, ressoa nos rios do Norte e nas cicatrizes da borracha ainda visíveis nos rostos dos descendentes expulsos tempos atrás.

Cada elemento em cena tem função política e poética. A água, que só vemos ao final, é promessa de disputa e resistência, metáfora de que é preciso insistir e persistir, afinal, água mole em pedra dura... A trilha sonora, executada ao vivo, revela uma pluralidade sonora e rítmica, reforçando o necessário distanciamento crítico.

O espetáculo, por fim, não representa a seca como um passado encerrado, mas como estrutura permanente de negação, no qual o inimigo interno — ora o retirante, ora o comunista, ora o pobre organizado — é construído para justificar políticas de repressão e exclusão. A Força da Água é, assim, um ato de insurgência estética e política. Um teatro que se coloca em movimento com o povo, e não apenas sobre o povo. Um teatro que historia a miséria, confronta a memória oficial e expõe as fissuras de um país construído sobre o controle das águas e dos corpos. O espetáculo do Pavilhão da Magnólia reafirma a potência da linguagem teatral como arena de disputa. Uma arte que não sacia a sede, mas abastece nossa memória e aponta o dedo para quem insiste em fechar as torneiras. Metáfora!



[1] Professor da Universidade Federal de Rondônia, Curso Licenciatura em Teatro; mestre e doutor em Artes, área de concentração Artes Cênicas, pelo Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (Unesp); ator, diretor, dramaturgo e integrante do Teatro Ruante.

O teatro praticado às margens*

 Adailtom Alves Teixeira[1]


A porção de terras, águas e florestas, que cobre a maior parte do território brasileiro, mais de 50%, chamado Amazônia, em que as distâncias são inimagináveis para muitas pessoas, onde os rios servem de veias para a vida, aqui também pulsa também a arte do teatro. Praticado às margens – das grandes cidades, das políticas culturais nacionais e das narrativas hegemônicas – o teatro do Norte do Brasil resiste como um testemunho de luta, criação e identidade.

Grande parte da integração forçada da região amazônica ao Brasil ocorreu sob o pretexto do progresso, sobretudo durante os períodos autoritários do Estado Novo (1937-1945) e da ditadura civil-militar (1964-1985). O lema "integrar para não entregar" mascarava projetos que devastaram comunidades originárias e ecossistemas, transformando a floresta em um laboratório de exploração econômica. Nesse contexto, e ao longo do século XX, o teatro percorreu altos e baixos, mas resistiu ecoando vozes e buscou compreender todo esse processo, ao mesmo tempo que denunciou as violências e propôs narrativas alternativas.

Focando apenas em algumas experiências mais longevas e alguns estados do Norte do Brasil, passo a mencionar aquelas mais próximas de nosso tempo histórico. De Rondônia, o Grupo Quebracabeça, fundado em 1982 por Alejandro Bedotti (argentino) e Ângela Cavalcante (fluminense) – mais que chegaram ao então Território ainda em 1979 –, tornou-se um dos símbolos dessa resistência. Em tempos em que a preocupação ecológica era periférica, o grupo já abordava temas como a ocupação do estado, chamada de colonização, e os impactos ambientais da exploração desenfreada, seja pela poluição dos rios, derrubada da floresta ou pela mineração. Apesar de ter realizado sua última apresentação há alguns anos, a chama criativa ainda persiste por meio de Ângela Cavalcante e Marlúcio Emídio, mantém o coletivo vivo, embora sem nenhuma obra em repertório,lá se vão mais de quatro décadas.

Ainda em Porto Velho, o Grupo Raízes do Porto, liderado por Suely Rodrigues desde 1991, personifica a diversidade e a inclusão que o teatro pode alcançar. Em palcos tradicionais, alternativos ou nas ruas, suas encenações dialogam com a cultura popular e tratam de questões como a violência de gênero e o universo infantil, revisitando lendas e brincadeiras populares. O grupo vem ganhando novo folego e retomando algumas de suas obras, como o infantil Minhoca na cabeça, com dramaturgia e direção da pernambucana Suely Rodrigues, obra que continua a encantar o público. Em cena Emilli Souza, Juraci Júnior, Kenny Frazão e Odinaldo Maurício. Outro espetáculo é Confidências de um espermatozoide careca de Carlos Eduardo Novaes, direção de Suely e atuação de Geovani Berno e Odinaldo Silva. Somam-se mais de três décadas e muitos espetáculos em sua trajetória.

Do Acre, destaca-se a Federação de Teatro do Acre (FETAC), fundada em 1978. Trata-se de uma instituição que reúne diversos coletivos em torno de si, a Federação mantém vivo o espírito do teatro na região, organizando festivais e oferecendo suporte a coletivos em todo o estado. Sua existência desafia o descaso e aponta para a potência do que foi (e é) o movimento federativo, que ainda reverbera em festivais e programações, promovendo a democratização do acesso ao teatro. A luta por políticas públicas é a tônica da instituições que congrega dezenas de grupos, como a Cia Visse Versa, criada em 2008 e com atuação muito significativa, pois além de seus espetáculos produz o Festival Matias de Teatro de Rua.

No Amazonas, a Cia. Vitória Régia, sob a liderança de Nonato Tavares, utiliza o palco como espaço para dialogar com os desafios locais. Em um de seus recentes espetáculos – também uma retomada –, o musical O casamento da Filha de Mapinguari alerta para a ameaça de extinção do sauim-de-coleira, espécie endêmica de Manaus. Este espetáculo, ao se valer da lenda do Mapinguari, conecta arte e consciência ambiental, enquanto celebra as mitologias da floresta. Fundada em 1982, o coletivo registrou em livro a passagem dos 40 anos de história: Cia Vitória Régia 40 anos: tempo de teatro, pela editora Reggo.

Do Amapá, mas precisamente do bairro de Perpétuo Socorro em Macapá, o Teatro Marco Zero resiste desde 1986, a 38 anos, oferecendo oficinas e espetáculos teatrais, sobretudo ao público adolescente e infantil. Criado por Daniel de Rocha e Tina Araújo, que com recursos próprios criaram um teatro colado à sua casa, alimentam a imaginação do público frequentador, mas não só, já que deambulam por ruas e outros espaços.

De Roraima, o grupo familiar Locômbia Teatro de Andanças também é exemplo de resistência e resiliência. Nascido em Barranquilla, Colômbia, em 1984, dois anos depois passou a circular pelo mundo: Europa, Ásia, África e toda América. Em 2001 chegou ao Brasil e se fixou em Boa Vista em 2005, anos depois criaram o Espaço Circular Malokôbia em Cantá, na região metropolitana de da capital roraimense. Composto por Beatriz Brooks, Orlando Moreno e o filho Shanti Ram, integra estéticas distintas em seus espetáculos, como a indiana e a do palhaço Inca, Lhamichu. Dessa tradição andina, por exemplo, tem o espetáculo Mar Acá, que nesse ano de 2024 circulou o Palco Giratório.

De Belém do Pará, dentre tantos coletivos, o Grupo In Bust Teatro Com Bonecos, é um primor no que diz respeito ao teatro de pesquisa, focado no teatro de animação, vem desde 1996 (28 anos), realizando espetáculos delicados que misturam as diversas técnicas de bonecos, máscaras e outras modalidades. A última produção, Aguar o Tempo, é um primor de delicadeza que evoca as ancestralidades amazônidas e dos atores e da atriz. Em cena Adriana Cruz, Anibal Pacha, Cincinato Júnior e Paulo Ricardo, que contam com apoio técnico de Cris Costa.

Tais exemplos mostram que o teatro no Norte do Brasil, ainda que marginalizado nas grandes discussões culturais do país, é profundamente relevante. Ele resiste às adversidades – ausência de políticas públicas, falta de recursos e distâncias geográficas – e transforma cada apresentação em um ato político e poético. Esse teatro praticado às margens é, acima de tudo, um espaço de memória, denúncia e sonho. Narra as histórias que o progresso quis apagar, dá voz às comunidades silenciadas e reimagina futuros possíveis. Evoé a todos os teatros do Norte do Brasil! Pois enquanto houver floresta, rios e pessoas que acreditem no poder da arte, o teatro continuará a existir, como um farol de resistência e transformação.

[1] Professor ajunto da Universidade Federal de Rondônia; doutor e mestre em Artes pelo Instituto de Artes da Unesp; ator, diretor e dramaturgo; integrante do Teatro Ruante; autor dos livros Circo Teatro Palombar: somos periferia, potência criativa (Editora Fala, 2024) e Teatro de Rua: identidade, território (Editora Giostri, 2022).

* Publicado originalmente na Revista Azul Celeste: 35 anos de histórias trocadas (2025).

domingo, 18 de maio de 2025

As instituições não conseguem acompanhar o tempo das redes

 

Adailtom Alves Teixeira[1]

Vivemos imersos na videopolítica — ou videosfera, como denominou Beatriz Sarlo (1997) —, em que a imagem, o espetáculo e a instantaneidade moldam a forma como a política é percebida, praticada e consumida. As novas mídias digitais, impulsionadas pelas transformações tecnológicas, passaram a ocupar o espaço simbólico da vida pública. Nesse cenário, os acontecimentos políticos são apresentados como eventos espontâneos, desprovidos de mediações institucionais, criando a ilusão de que tudo se dá em tempo real, à vista de todos e sem filtros.

No entanto, essa aparente transparência carrega um paradoxo: quanto mais imediata e acessível a política parece, mais ela se afasta da complexidade real das instituições democráticas. Para alcançar visibilidade nas redes, os temas precisam ser convertidos em escândalos, fragmentados em cortes curtos, viralizáveis, emocionalmente carregados. É nesse ponto que a midiosfera — especialmente as redes sociais — se impõe como um espaço onde o não-mediado ganha status de verdade. A política, então, passa a operar por meio de efeitos e sensações, em detrimento da análise e da deliberação.

Imagem retirada da internet, disponível em: 
https://encr.pw/0finC. Acesso em: 18 maio 2025.

O discurso político se transforma, adotando um estilo coloquial, informal e performático. No Brasil, esse novo estilo não apenas invadiu o marketing eleitoral, mas contaminou também os parlamentos, dos níveis municipais ao Congresso Nacional. A videopolítica dessacraliza a política: desfaz suas formalidades, suas liturgias e seus rituais institucionais. Com isso, o político passa a se apresentar como uma figura comum, alguém "como qualquer um", que compartilha dos sentimentos e angústias do cidadão médio. Essa estratégia, contudo, é uma construção cênica: a máscara da simplicidade esconde o cálculo de performance.

Essa suposta proximidade entre representante e representado, ao invés de fortalecer a democracia, tende a substituí-la por um simulacro. A figura pública se torna um entertainer, e o espaço político se converte em palco de um reality show permanente. Importa menos a capacidade de articular políticas públicas do que a habilidade de engajar, emocionar e viralizar. O político eficaz, hoje, é aquele que domina as lógicas do star system, muito mais do que os trâmites do regimento interno de uma casa legislativa.

Nesse ambiente, prevalece um discurso simplificado, maniqueísta e emocional. A política, transformada em espetáculo, passa a operar com base na lógica do “causa e efeito imediato”. O tempo da reflexão e do debate é suprimido pelo tempo do hype. A efemeridade das redes impõe uma lógica de presente contínuo que esvazia o passado — fundamental para o aprendizado democrático — e inviabiliza a construção de futuros coletivos. Vive-se à mercê do algoritmo, na urgência do agora, numa sucessão de "acontecimentos sem qualidades".

A consequência desse processo é dupla: por um lado, a institucionalidade é desacreditada, vista como lenta, burocrática e ineficaz; por outro, se naturaliza a ideia de que a política eficiente deve seguir o modelo das redes — rápida, direta, emocional. É a despolitização da política travestida de engajamento. Já não basta registrar os fatos, é preciso fabricá-los para que sejam registrados. O que importa não é a política como processo, mas como performance. A frase de impacto, o corte perfeito, o vídeo de 30 segundos — tudo precisa caber no tempo de um reel.

Essa lógica transforma a democracia em uma arena de opiniões em que se diluem as fronteiras entre especialização e achismo. A ilusão da igualdade plena entre todos os emissores produz uma “democracia de opinião” na qual um jogador de futebol e um chanceler são tratados como equivalentes ao comentar temas complexos de política internacional. A desierarquização simbólica da política e da intelectualidade convive com uma reierarquização baseada em carisma digital, número de seguidores e capacidade de viralização.

As instituições, baseadas em processos longos, contraditórios e, muitas vezes, pouco visíveis, não conseguem competir com a velocidade da rede. Seus ritos e protocolos parecem antiquados diante da fluidez da comunicação digital. Mas é justamente essa lentidão que garante a segurança jurídica, o contraditório, a proteção das minorias e o respeito aos direitos. A crise de legitimidade das instituições, agravada pelo ambiente digital, põe em risco as bases da democracia representativa.

Ao revisitarmos os alertas de Beatriz Sarlo, percebemos que o que estava em jogo em 1997 — a escolha entre a política do show business ou a reconfiguração crítica da representação democrática — tornou-se ainda mais urgente. Hoje, a televisão cedeu lugar ao celular, mas a lógica do espetáculo se aprofundou. A praça pública foi substituída pelo feed de notícias. A política, muitas vezes, se resume a uma sucessão de "lacrações" e indignações fugazes.

A pergunta que resta é: ainda é possível fazer política fora da lógica da midiosfera? Para além da exceção de alguns parlamentares comprometidos com o debate qualificado, existe horizonte fora da política-espetáculo? É preciso recolocar em cena uma política que reconheça a importância da escuta, da divergência, da construção coletiva — e que aceite que nem tudo cabe em 15 segundos. A política que vale a pena não é a que gera cliques, mas a que transforma realidades.

 

Referências

SARLO, Beatriz. Sete hipóteses sobre a videopolítica. In: SARLO, Beatriz. Paisagens imaginárias. São Paulo: EdUSP, 1997.



[1] Professor da Universidade Federal de Rondônia; doutor e mestre em Artes pelo Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista; graduado em História pela Universidade Cruzeiro do Sul.

segunda-feira, 14 de abril de 2025

Lei PNAB entra em contagem regressiva: Rondônia corre risco de perder recursos fundamentais para a cultura

 

Adailtom Alves Teixeira[1]

Faltam apenas 78 dias para que estados e municípios cumpram os prazos de execução da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), sob risco de perder os repasses previstos para o próximo ano. Apesar de os recursos já estarem depositados nas contas dos entes federativos que aderiram ao programa, a esmagadora maioria dos municípios de nosso estado ainda não lançou os editais públicos necessários para a aplicação do montante. A situação é especialmente preocupante quanto ao estado de Rondônia, onde o atraso não só compromete o volume de recursos destinado, mas também afeta todos os municípios – inclusive aqueles que, por motivos diversos, não aderiram formalmente à política.


A PNAB representa um avanço importante na consolidação de uma política pública de fomento cultural de caráter continuado no Brasil. Diferente das ações emergenciais anteriores, como a Lei Aldir Blanc (em sua primeira versão) e a Lei Paulo Gustavo, a PNAB visa estabelecer uma estrutura permanente de financiamento à cultura, respeitando a diversidade regional e promovendo a descentralização dos recursos. O não cumprimento dos prazos significa, na prática, abrir mão do desenvolvimento cultural, social e econômico local, bem como abrir mão da construção de uma identidade cultural forte em nosso estado.

A cultura é vetor de desenvolvimento. Gera emprego, renda, movimenta o turismo e fortalece a economia dos territórios, mas também pode ser motivo de orgulho de um povo, posto que as produções artística chegam onde outros fatores não costumam chegar. Em estados como Rondônia, onde ainda não há uma política pública de cultura efetiva e estruturada, o desperdício desses recursos equivale a negligenciar oportunidades reais de transformação. A ausência de editais e a morosidade na execução do que está previsto em lei vão na contramão da realidade vivida por centenas de trabalhadores da cultura que dependem desses incentivos para continuar produzindo.

O histórico recente não é animador. Mesmo com os impactos positivos gerados pela Lei Paulo Gustavo – responsável por fomentar a produção de filmes, mostras, festivais, espetáculos e outras expressões artísticas no estado, alguns já realizados e outros ainda em processo – a Secretaria de Estado da Juventude, Cultura, Esporte e Lazer (Sejucel) não conseguiu executar a totalidade dos recursos. Muitos projetos contemplados sequer foram pagos, e parte do dinheiro precisou ser devolvido ao Tesouro Nacional. O temor da classe artística é que a história se repita com a PNAB.

Desde a primeira Lei Aldir Blanc, passando pela Paulo Gustavo até o atual marco da PNAB, o Conselho Estadual de Política Cultural (CEPC) e a sociedade civil organizada têm atuado incansavelmente na defesa da cultura em Rondônia. São esses atores que pressionam, dialogam e propõem soluções para garantir que os recursos cheguem à ponta. No entanto, a falta de prioridade política e administrativa tem minado os esforços coletivos.

Com o tempo se esgotando, é urgente que os gestores públicos ajam com responsabilidade. Cada dia perdido representa uma oportunidade a menos para centenas de fazedores de cultura, coletivos e comunidades tradicionais que, historicamente, têm sido invisibilizados pelas políticas estatais. Se o dinheiro está disponível, já em conta. Há que se perguntar:  O que falta aos gestores públicos? Só uma política pública efetiva e robusta será capaz de fortalecer a cultura e impulsionar o desenvolvimento do nosso estado. E a PNAB é o caminho para que isso ocorra.



[1] Professor Adjunto da Universidade Federal de Rondônia, na qual é Coordenador do Curso Licenciatura em Teatro; doutor e mestre em Artes pelo Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (Unesp); graduado em História pela Universidade Cruzeiro do Sul (Unicsul); um dos fundadores e articulador da Rede Brasileira de Teatro de Rua.

terça-feira, 4 de março de 2025

MOSTRA GRITOS DO COTIDIANO - rompendo estruturas - 3ª edição

 

A Mostra Gritos do Cotidiano – Rompendo Estruturas é um projeto que surge em resposta ao alarmante cenário de feminicídios e violência no Brasil, conforme evidenciado pelo 14º Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2020, o qual destaca um aumento preocupante desses índices. Diante dessa realidade, o projeto busca abordar e expor as diversas formas de violências enfrentadas pelas mulheres em seu cotidiano, muitas vezes relegadas ao silêncio e à invisibilidade social. Por meio de cenas e performances, a Mostra busca criar um espaço de expressão e conscientização sobre tais questões.

Nesta terceira edição, o projeto expande sua abordagem, concentrando-se nas vozes e experiências das mulheres. Para tanto, uma pergunta fundamental nos orienta: o que elas precisam gritar? A indagação busca dar voz às vivências, necessidades e demandas específicas das mulheres da região Norte, com destaque para Porto Velho/ Rondônia, reconhecendo suas experiências e os desafios que enfrentam em seu cotidiano. Ao todo serão três dias de programação, com duas apresentações diárias, seguidas de roda de conversa.


Selma Pavanelli, coordenadora do evento, afirma que “programações culturais que discutem a condição da mulher na sociedade brasileira é fundamental e é o que teremos”. Já a idealizadora da Mostra, Stephanie Matos, diz está muito feliz, porque “é a primeira vez que o evento é realizado de modo presencial, já que as edições anteriores ocorreram durante a pandemia”.

O projeto foi contemplado no EDITAL Nº 3/2024/SEJUCEL - SIEC - LPG – DEMAIS LINGUAGENS – BOLSAS PARA PRODUÇÃO DE ARTES INTEGRADAS RONDONIENSE – Eixo I - Categoria A – Evento Cultural.



SERVIÇO
Quando: 14, 15 e 16 de março de 2025

Horário: 19 h

Quanto: GRATUITO

Acessibilidade: Intérpretes de Libras

Local: Espaço Cultural Tapiri - Endereço: Rua Franklin Tavares, 1349, Bairro Pedrinhas – Porto Velho, RO


PROGRAMAÇÃO

DIA 14/03/25

Cotidiano-Mulher, atriz Selma Pavanelli - foto Karla Schmohl



COTIDIANO-MULHER narra o dia a dia de uma costureira e sua relação em um mundo marcado pela postura masculina-patriarcal. Nesse atravessamento e (des)encontros, aos poucos, desvelam-se as marcas e problemas enfrentados por esta mulher.

SELMA PAVANELLI – Produtora cultural, atriz, palhaça, figurinista, integrante fundadora do Teatro Ruante desde 2004. Seu trabalho, com mais de três décadas de atuação, é inspirado no universo popular e tendo por objetivo democratizar a arte e promover uma comunicação direta com seu público. A atriz tem como locus fundamental em sua trajetória os espaços abertos e alternativos, além disso vem promovendo vivências artísticas por meio de oficinas e cursos de teatro, de técnicas circenses e da palhaçaria.

Ficha Técnica
Texto: Andressa Ferrarezzi
Interpretação/adaptação: Selma Pavanelli
Direção: Adailtom Alves
Duração: 10 min.
Faixa etária: 14 anos

Carcinoma, atriz Cláudia Toledo - foto Elias Oliveira



CARCINOMA é o encontro da arte com a realidade. A experiência nua e crua que pulsa na veia em busca da cura do ser, do transcender! É sobreviver! A obra resultante de uma vivência vista com um outro olhar. É leveza consciente, vívida e envolvente. O limite entre o são e o insano. A atriz-personagem dialoga com a trajetória caminhada com o câncer de mama, e compartilha o que foi construído a partir das etapas vencidas, como num surto, prevalecendo a poética de uma dramaturgia que passeia entre o real e o imaginário.

CLAUDIA TOLEDO – Atriz, diretora, coreógrafa, figurinista, aderecista, dramaturga, e, atualmente, diretora da Cia. Visse e Versa (Rio Branco/AC) e membro fundadora deste coletivo, atuando também na produção de projetos de circulação, formação, difusão e de Festivais realizados pelo seu grupo e pela Federação de Teatro do Acre (FETAC), a qual é filiada desde 2008. Licenciada em Letras Inglês pela UFAC, com especialização em Educação Especial. Professora de Arte Educação, Dança e Teatro na rede pública e privada de ensino.

Ficha Técnica
Atuação, Dramaturgia e Figurino: Claudia Toledo
Direção Artística, Cenografia: Nonato Tavares
Assistência de Direção, Operação de Som, Iluminação: Lenine Alencar
Consultoria de Figurino e Design Gráfico: Ágatha Lima Rosa
Criação Sonora e Direção Musical: Diogo Soares
Efeitos Sonoros: Pedro Cruz (Rabeca), Mestre Matraca (Atabaque)
Mixagem e Masterização: Rislei Moreira
Fotografia: Elias Oliveira
Produção: Lenine Alencar
Duração: 40 minutos
Faixa Etária: 14 anos


RODA DE CONVERSA: Fórum Popular de Mulheres (FPM) – Criado 1992, motivado pela luta de mulheres ativistas dos movimentos popular e sindical e de organizações sociais que pautavam a defesa dos Direitos Humanos de Mulheres e Meninas, dos direitos sexuais e reprodutivos e pelo Fim da Violência contra mulher baseada em Gênero e do Feminicídio, no Município de Porto Velho-RO. O FPM também desenvolve projetos na área de artes, como o Canta Mulher.


DIA 15/03/25

Desnuda, performer Andéa Melo - foto Frank Busatto



DESNUDA é uma performance que busca uma contextualização sobre a sujeição da mulher e a naturalização das violências cotidianas. Partindo de algumas provocações, como a da pensadora G. Spivak em Pode o subalterno falar? e Bell Hooks em Erguer a voz, vem lembrar que ser mulher se mostra de forma interseccional e cada uma é atravessada por tipos de violências variadas. Além da denúncia, visa apontar uma possibilidade de confiar em si e no que sentimos, em conhecer nosso corpo, nossas dores, e em nosso processo de tentar se descontaminar do patriarcado.

ANDRÉA MELO é artista-pesquisadora do corpo na cena, com experiência em ensino, criação e estudos do movimento a partir da dança. Formada em Arte Visuais, pela Universidade Federal de Rondônia (UNIR), é amazonense de nascença e rondoniense de vivência. Investiga as possibilidades entre a dança, a performance e as artes visuais.

Ficha Técnica
Intérprete-criadora: Andréa Melo
Texto: Aline Monteiro
Música: Suçuarana (Pietá)
Fotografia: Frank Busatto
Duração: 20 minutos
Faixa Etária: 18 anos

Elisabete Christofoletti, psicóloga - foto @imagemdointerior



RODA DE CONVERSA: O que grito?! – Uma oportunidade para o compartilhamento de falas e do aprendizado na escuta. Na relação com o/a outro/a, no acolhimento respeitoso e na escuta segura nos propomos a oferecer um espaço de elaboração das feridas que gravam fundo em nossas vivências quotidianas.

Mediação e condução: ELISABETE CHRISTOFOLETTI – Está na Amazônia há mais de 30 anos. Psicóloga, Analista Junguiana, profundamente comprometida com os Povos da Floresta. Faz parte do Coletivo Madeirista, um grupo de artistas multimídias, moradores na Amazônia; do MIIS-RO (Museu Imaterial da Imagem e do Som de RO); do Imagem do Interior; do AGPAA (Associação Grupo de Psicologia Analítica na Amazônia).

Ficha Técnica
Duração: 90min
Faixa Etária: 18 anos
Imagem: @imagemdointerior


DIA 16/03/25
Eva, atriz Kaline Leigue - foto Luisa Ritter


EVA é um solo poético que celebra o laço ancestral entre avó e neta, unindo palavra, canto e corpo. A obra mergulha na busca de pertencimento de uma artista, explorando sua ancestralidade e os afetos enraizados em sua história.

KALINE LEIGUE é atriz e realizadora audiovisual afroamazônida, com foco na ancestralidade, no teatro, na dança e no cinema. Produziu seis curtas-metragens selecionados para festivais nacionais. Participa de projetos culturais e compartilha experiências sobre metodologias para atores.

Ficha Técnica
Direção, dramaturgia e atuação: Kaline Leigue
Figurino e adereços: Valdelita Leigue
Sonoplastia: Junior Brum
Duração: 30 minutos
Faixa Etária: Livre

Incanto, cantora Izabela Lima - foto Iury Melo



INCANTO é um pocket show em que serão apresentadas canções interpretadas pelo trio Izabela Lima, Rose Abensur e Mauro Araújo. As canções autorais selecionadas para o palco pela cantora e compositora trazem mensagens de empoderamento feminino, encantamento das paixões e milagres cotidianos.

IZABELA LIMA é cantora, compositora e instrumentista. Busca incentivar a rede de mulheres artistas, seja como criadoras e/ou produtoras, por meio do Grupo de Mulheres que Escrevem Jardim das Evas, pela coordenação do Festival Sonora PVH de compositoras e pelo seu artivismo no Levante Feminista de Rondônia. Também atua com a produção de campanhas de ativismo por meio PPkast produções.

Ficha Técnica
Voz/percussão: Izabela Lima
Flauta transversal: Rose Abensur
Piano/teclado: Mauro Araújo
Duração: 30 minutos
Faixa Etária: Livre


RODA DE CONVERSA: Participações especiais do Levante Feminista de Rondônia (é uma frente suprapartidária formada por movimentos feministas, organizações e mulheres diversas que tem como objetivo sensibilizar, mobilizar e denunciar à sociedade o aumento dos casos de feminicidío, o descaso e a omissão do Estado, e ainda exigir medidas efetivas de proteção à vida das mulheres), Mulheres Atingidas por Barragens (Desde o início do MAB – Movimento dos Atingidos Por Barragens –, as mulheres tiveram um papel ativo e importante em sua construção e em todas as regiões do Brasil, seja nas tarefas de liderar as lutas, seja nas tarefas organizativas na comunidade que fortaleciam o movimento garantindo a organicidade das atividades. Cada região traz suas particularidades, o importante é evidenciar que as mulheres atingidas sempre estiveram em busca de seus direitos) e Rede Lilás (criada em 2010, com o objetivo de unir instituições, órgãos, agentes e pessoas que trabalham de forma integrada e cooperativa no enfrentamento à violência doméstica e familiar contra a mulher, visando sua proteção e atendimento).



CONTATOS:
Coordenação Geral: (69) 98164-3332 – Selma Pavanelli
Produção: (69) 98425-6408 – Stephanie Matos

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

A ARTE CÊNICA EM RONDÔNIA

       
Valdete Sousa[1]

O teatro tem uma história específica, capítulo essencial da história da produção cultural da humanidade. Nesta trajetória o que mais tem sido modificado é o próprio significado da atividade teatral: sua função social.
(Fernando Peixoto)

Resumo:     A pesquisa realizada trata das questões relacionadas ao desenvolvimento do teatro no Estado de Rondônia, desde suas primeiras manifestações até a atualidade. Os resultados partem de um estudo de desenvolvimento, feito através de instrumentos de coletas de dados, por meio de  formulários e entrevistas. A trajetória do teatro local inicia-se, ainda no período da construção de Porto Velho, com a instalação da sede da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, às margens do rio Madeira.


Palavras Chaves: Teatro, Cultura, Arte, Rondônia.


1. INTRODUÇÃO
                   O objeto de pesquisa discutido no presente artigo é o desenvolvimento das artes cênicas no estado de Rondônia, tema abordado na Monografia de conclusão de curso de Graduação de Letras sob o título O Desenvolvimento do Teatro em Rondônia. Portanto, esta pesquisa delineia a  trajetória que a história do teatro em Rondônia trilhou, desde suas primeiras manifestações até a atualidade, sob o ponto de vista histórico, artístico e social.
                   O tema escolhido justifica-se, pois, não existe no estado, até o presente momento, pesquisas nesta área e não há registros que digam como, quando, ou mesmo se ocorrem essas manifestações. O objetivo geral desta pesquisa fixa-se na arte cênica em Rondônia tomando por base os acontecimentos nos municípios de Porto Velho, Ji-Paraná, Cacoal e Vilhena, observando qual a contribuição que o teatro proporciona a essas comunidades. Bem como, a trajetória que percorreu ao longo da história. Os objetivos específicos referem-se à pesquisa e a catalogação dos principais grupos, atores e técnicos em artes cênicas que estão em exercício no momento ou que tiveram relevância na história do teatro local. Como também, fez-se um levantamento de registros que comprovam a origem da arte no Estado.
                   Tendo em vista cumprir o propósito mencionado, foi feito um estudo de desenvolvimento, utilizando de instrumentos para coletas de informações como entrevistas e formulários. Além de pesquisas nos bancos de dados existentes no Estado, como o Centro de Documentação de Rondônia, Bibliotecas municipais e orgão ligados ao teatro: SATED – Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos e Diversões e FETER- Federação de Teatro de Rondônia. Mas, grande parte da pesquisa foi conseguida através da história oral documentada nas entrevistas e de documentos de arquivos pessoais.

2. DESENVOLVIMENTO

2.1 O Porto de partida     
                   As manifestações culturais no município de Porto Velho, no início do séc. XX, conforme Arimar Souza de Sá (2000, p. 60) afirma, possuía alguns locais demarcados: “O Danúbio Azul, o Bancrévea, o Clube da Elite, onde aportava sem pudor a fina flor da rapiocagem. A casa Saudade e O mundo Elegante, os pontos chiques da moda”.O autor aponta, ainda, os encontros culturais do antigo Porto Velho Hotel, atual Unir Centro, local onde os principais artistas do município encontravam-se. Um dos nomes mais marcantes deste período é o de Dona Labibe Barthólo, nascida em 13 de maio 1909, atriz atuante e muito influente que chega a Porto Velho em 1912. Trabalhou como atriz e cantora, primeiro nos grupos do Madeira-Mamoré, na déc. de 30, que faziam apresentações nas casas de militares, a arte caminhava de casa em casa. Posteriormente, no Cine Phoenix ou em bailes que aconteciam no Antigo Clube Internacional.
                   Sabe-se que entre as décadas de 40 e 60, grandes Companhias de Teatro como a de Tônia Carrero passaram pela Capital. Um grande momento para arte deste período ocorre em 1950 com a inauguração do Cine Teatro Resky.
Porto Velho se rendeu fascinada a majestosa beleza do Cine Teatro (...) A partir daquele momento ele passou a ser o orgulho da população do então Território Federal do Guaporé.(...) Era o grande destaque onde o luxo e o requinte naquela nova sala de espetáculos empolgava. (ELETRONORTE, 2005, p. 76)

                   Neste período, Rondônia possui uma produção ainda insipiente e voltado para a encenação de maneira improvisada. Alguns espetáculos eram projetados para entreter o público nos intervalos de trocas das fitas dos filmes no cinema no início do séc. XX. De certa maneira, esta produção contribuiu para o desenvolvimento do jovem estado de Rondônia, a arte sempre presente em festas, cinemas, serenatas e saraus.
Vê-se que a história do teatro se confunde com a do cinema em Porto Velho, conforme se sabe:
As primeiras salas de espetáculos de Porto velho eram de cinemas e algumas ofereciam condições para representações teatrais, como o Cinema Caripuna, Cine Teatro Phoenix, Cine Rosas, Cinema Ideal, Cine Avenida, Cinema dos Padres, Cine Rocha, Cine Catega, Cine Brasil, Cine Teatro Resky, Cine Lacerda e outras salas que não foram registradas por nossos historiadores. (ELETRONORTE, 2005, p. 33)

Na capital, por volta de 1960, desenvolve-se o teatro radiofônico, feito através da Rádio Caiari que possuía um espaço destinado a produção teatral. Conforme afirma Arimar Souza de Sá, havia “na hora do almoço o Ronaldo Medeiros e seu teatrinho infantil, pela Rádio Caiari, a incitar o ânimo cultural da garotada” e segundo Alejandro Bedotti ”havia algumas cadeiras destinada ao público e se fazia teatro na rádio.”(Bedotti:2008)

2.2 Anos 80: O Auge do Movimento Teatral
Existe um consenso entre os artistas locais de que a década de 80 foi extremamente produtiva. Esse fato é atribuído à diversas razões: I - em 24 de maio de 1978, há a regulamentação da profissão de artista e técnico em espetáculos e diversões, através da lei nº 6.533, e pode ter surtido um efeito energizante para os artistas que passam a organizar-se em grupos; II - o intenso fluxo de pessoas que migravam de outros estado; e III - a criação da FETER - Federação de Teatro de Rondônia, em 1982, ajudou a organizar o movimento. Assim, no final da década de 70 e em toda a década de 80, pode-se encontrar grupos teatrais nas cidades situadas ao longo da BR 364.
Em 1976, há registros que comprovam a atividade teatral em Porto Velho. O grupo Terra ao qual pertencia o artista plástico Geraldo Cruz e o prof. Oswaldo Gomes Oliveira atuava, conforme afirma Geraldo, com um forte cunho político, em decorrência dos resquícios do ainda recente golpe de 1964. O grupo produziu um texto poético, também intitulado Terra, levando aos palcos a temática do meio ambiente. Alguns artistas mudavam-se para a região Norte fugindo da perseguição do eixo Rio-São Paulo, dessa maneira Rondônia ganhou alguns atores, diretores e autores nesse período.  Assim, contribui para uma nova formação no teatro local, a chegada de dois artistas do Rio de janeiro contratados pelo SESC para ministrar aulas de teatro, em Porto Velho, Alejandro Bedotti e Angela Cavalcante.
Esses profissionais, montam um grupo no Sesc, e trazem do Rio de Janeiro o espetáculo de bonecos Panelândia. Em seguida, fundam o grupo Cipó e montam um texto com temática regional Rio que é rio é... gente de Bedotti, que apresenta algumas lendas do folclore amazônico. Em entrevista Angela (2008) conta que:
Quando chegamos aqui, viemos pelo Sesc, a gente encontrou boatos, mas na verdade, não vimos nada. Sabia-se que já tinha o grupo Terra, O filho do homem(...) Então, criamos um grupo de teatro no sesc, anos depois, começamos a apresentar a Panelandia, que era um espetáculo do Rio de Janeiro que estava em cartaz nos parques e jardins lá, tinha bonecos tipo formas animadas. Juntamos as pessoas: era o Jango, Amauri, o Jota e nós, depois foi chegando mais gente. Então nós criamos o grupo Cipó para montar um espetáculo para a secretaria de educação. Era sobre temas amazônicos e se chamava Rio que é rio é...gente. Aí começou o trabalho com o grupo Cipó. (...) tivemos que ir embora do Território. No dia que estava virando Estado nós voltamos, então viemos pra cá (...) e nós fomos ficando, então nós montamos o Quebracabeça.

O grupo se desfaz e o casal funda, em 06 de setembro de 1982, o grupo de teatro amador Quebracabeça, que segunda consta, foi o primeiro grupo com personalidade jurídica do Estado. Durante o período em que ficou ativo montou diversos trabalhos, tais como Sapo Tarô-Bequê, Tempo bom com poesia pasquim, Banda Picolé, Rádio nossa de cada ouvinte, que eram apresentados em praças e auditórios.
O grupo Êxodo surge a partir de um grupo de jovens que reunia-se na igreja Nossa Senhora das Graças, em Porto Velho, e passa a funcionar como entidade jurídica em 25 de julho de 1984, com o nome de Clube Teatro Êxodo. Tem como sócios-fundadores José Monteiro, o jornalista Zogbi e Omedino Pandoja. O primeiro texto produzido foi O filho do homem, atualmente, O homem de Nazaré. O grupo possui cerca de 20 atores permanentes e durante a temporada de apresentações admite pessoas da comunidade que compõem o elenco. Ao final, são cerca de 300 pessoas em cena.
Na Porto Velho da década de 80, todos os dias surgia um novo grupo, pois o movimento teatral mostrava-se vivo e promissor. Cite-se os grupos que mais obtiveram destaque no período: O Grupo Porantin, ao qual pertencia o ator Jango Rodrigues que trabalhou com teatro de bonecos junto com Cláudio Vrena. Jango mantinha, com recursos próprios, um local denominado Espaço Curumim, destinado a receber artistas de outras localidade e a ser ponto de encontros culturais. O grupo É do mela volta ou do Mela continua? também esteve presente em muitos momentos, no teatro rondoniense, com a atriz Lenny Carneirinha de Lisboa.
O Água de Chocalho do ator Xuluca Dantas, foi um espaço pelo qual passaram muitos outros atores que atuam no teatro local, como é o caso de Greg Silva e Lú Rodrigues que participaram, em 1986, do Água. Trabalhavam com animação de festas e alguns projetos como Hoje tem espetáculo que trazia a peça  Pimpão, Alegria e confusão (Waldemar Silas, 1989) apresentados em escolas, no Teatro Municipal de Porto Velho e no Sesc.
Em Ji-Paraná, conforme afirma Firminetto Mendes, em 04 de abril de 1981, surge o Arterial seu registro data de 26 de setembro de 1984, fundado por Firmineto Mendes e sua irmã Floraci Mendes Silva. Uma das primeira peças criadas pelo grupo explora o improviso: os personagens Ourino Fedegoso e Caboeta saíam pelos bares da cidade encenando através de um roteiro, sem texto escrito. Em 1984, montam o espetáculo O sentir de nossa gente de Francisco Carlos Silva que foi apresentado em diversos municípios do estado, no Acre, Bahia, Espírito Santo e Mato Grosso.
O grupo, em cerca de 20 anos de história, montou muitos espetáculos de autores locais tais como: Firmineto Mendes(Ji-Paraná) com O manchão e o travesti, Eu não estou louco e Saga da Amazônia; Sheila Ferreira(Ji-Paraná) com Por Favor nos aposentem e Vilão? Aqui não!; Luiz Antônio de Araújo (Porto Velho) com Lulu e Mon’ Amor, Joaquim Inocente e O Menino Jardineiro e a Rosa do ano inteiro; e ainda Quando eu Crescer de Francisco Carlos Silva(Ji-Paraná), Perdidos na Floresta de Antero de Sales(falecido), Eu, Você e eles de Suely Rodrigues (Porto Velho) e Casamento em Crise de Rogério Casovik Viana (Ji-Paraná). Através de todas essas montagens o Arterial recebeu dois prêmios pela Funarte e um pela Petrobrás.
Em 1986, foi criado por Gregório Silva e Lucimar Rodrigues, em Ji-Paraná, o Grupo de Teatro Amador Fama que atuou por pouco tempo, montando os espetáculos: Canteiros(1986) texto de Romildo Monteiro(DF), Proibido ver I, Proibido ver II(1989) (adaptação de textos) e Yapuna-Caá, estrela das águas(1989) (texto adaptado). Seus fundadores mudam-se para Porto Velho, em função da força do movimento teatral na Capital, e começam a participar do Grupo Água de Chocalho. Cite -se ainda o Grupo Shallon que atuou no município em 1987 montando textos de cunho religioso.
                  Em Vilhena, encontra-se em 1986, o Group Novamente, do ator Bráz Divino,  escritor da primeira peça montada, Pé de Guerra, que dirigiu e atuou com Sandra Pedron. O grupo participou de congressos e festivais no Estado até 1993, ano que inicia um longo período de inatividade. Somente em 2004, Bráz produz o monólogo de Alexandro Bedotti A rede. O ator organiza periodicamente, durante o ano de 2006, o Retreta, em bares noturnos, uma espécie de Sarau em que qualquer pessoa pode participar com alguma atividade artística.
                   Na déc. de 80,  muitos grupos surgiram e outros tantos desapareceram em poucos anos: em Cacoal, registra-se o Sol criado por Claudio Vrena e o Essência das coisas(1986), de onde surge Chicão Santos; no cone sul, havia o Senzala, em Colorado do Oeste;  em Porto Velho, observa-se alguns grupos de teatro de bonecos como é o caso do grupo Porantim, Encenação, Teara, É do mela volta ou do mela continua? e o Cuniã. Além desses, havia atividade teatral em escolas e igrejas em diversas cidades, inicia-se nesses ambientes grande parte dos grupos do Estados.

2.3 Anos 90: O Teatro Estudantil
                   A década de 90 inicia-se com mudanças no cenário teatral, a maioria dos grupos criados anteriormente se dissolve, continuam existindo: o Arterial, o Êxodo, o Group Novamente. Paralelamente, surgem alguns grupos novos como o Raízes do Porto em 1992, fundado por Suely Rodrigues, que adquire grande espaço no estado e na região, pois participa de festivais no Acre e em Manaus. O primeiro texto montado pelo grupo é de Suely, Eu, vocês e eles. Desde sua criação, esteve ativo mantendo sempre um espetáculo diferente em cartaz, são cerca de 17 texto produzidos de 1992 a 2007. Grande parte são obras de artistas locais, porém também produziram clássicos infantis. Cite-se: Suely Rodrigues com Eu, Vocês e Eles, Minhoca na Cabeça, Histórias do Sítio, Mateus e Zulmira e Porções e Magias (adaptação das poesias de Nilza Menezes); Tira a canga do boi de Marcos Freitas; Confissões de um espermatozóide careca de Carlos Eduardo Novaes; A formiga Fofoqueira de Carlos Nobre; Flicts, a cor de Aderbal Júnior e Os saltimbancos de Chico Buarque de Holanda.
Porém, a década de 90 é marcada por outro tipo de manifestação teatral: o teatro estudantil. Registra-se, ao longo da década, diversos grupos e festivais que partem da iniciativa de alunos e professores de escolas particulares e municipais em todo o estado. Em Porto Velho, há a criação do Grupo de Teatro Oficina da Unir, dirigido por Angela Cavalcante, que neste período era integrante da DIAC/UNIR e ministrou três cursos para os alunos. O Oficina produziu, Revolução da América do Sul(1990) de August Boal, Os sonhos de Tom e Théo(1991) de Arnaldo Miranda e Hep e Heg - Os moleques(1992) de Arnaldo Miranda.
                   Fato importante também foi o surgimento do GRUTTA - Grupo Regional Unidos Trabalhando pelo Teatro Amador, em 1991, por iniciativa da Prof. Léia Leandro da Escola Risoleta Neves. Em 1994, o GRUTTA possuía, cerca de 48 integrantes, e mantinha apresentações no espaço do Teatro I do Sesc, além de uma oficina permanente semanal que desenvolvia atividades de reciclagem teatral. O espaço conquistado por esse grupo é relevante e a partir dessa iniciativa outras escolas também envolveram o teatro em suas atividades. Como ocorre na Escola Kepler, onde se desenvolve o Grupo Art Kepler, que destacava-se entre os grupos de escolas particulares. Ocorria, em Porto Velho, em 1993, diversos festivais de teatro estudantil, congressos e encontros de teatro amador. Além disso, o grupo organizou um Festival de Teatro  entre as escolas particulares de Porto Velho. Assim como o movimento teatral estudantil estava forte em Porto Velho, no restante do estado não era diferente.

2.4 Anos 2000: Uma nova fase
Ao longo de sua história, o teatro produzido em Rondônia acumulou experiências e desenvolveu-se em diversos sentidos. Os profissionais que atuam após a década de 90, buscam uma atividade teatral mais concisa, e muitos tem o  teatro como profissão ou ligam de alguma maneira sua atividade profissional ao teatro. A atuação de artistas como Alejandro Bedotti, Angela Cavalcante e Firminetto Mendes, durante mais de duas décadas, trouxeram para o teatro local grande desenvolvimento quanto à formação de atores, diretores e outros profissionais da área. O resultado dos cursos e oficinas ministrados por esses profissionais irão aparecer nesse momento. Os grupos que surgem, demonstram maior preocupação estética, mais responsabilidade com o público.
Assim, temos artistas antigos como Chicão Santos, formando grupos novos como a Associação Cultural O Imaginário, surgido em 2005, um grupo preocupado com a formação de seus atores e da platéia, que viaja o estado promovendo oficinas e divulgando seus espetáculos, além de participar de festivais em outros estados. Junto com o Raízes do Porto são atualmente os dois grupos mais conhecidos e ativos de Porto Velho.
Encontra-se também, em Cacoal, atividade teatral com o grupo Risoterapia, formado em 2003, pelo ator Edimar Oliveira que trabalha com texto de comédia, todos escrito pelos próprios atores. Desde sua criação, manteve-se ativo, montando espetáculos periodicamente,  são mais de 13 peças, dentre elas, cite-se: Penosa do sul vai às urnas, Quem matou Tenório?, O pecado da Carne, Homem por um fio, O Madrasto, O escritor, Programa de Quinta, Pequenos cérebros, grandes bobagens e Dolores da Madrugada. Assim como o grupo Nada d+ da atriz Tainah Musa Lobato que é formada em Artes cênicas e além do trabalho com o grupo de teatro produz oficinas paralelas.
                   O Cone sul do Estado, ainda possui uma produção insipiente. Apesar de existirem grupos atuantes, em Vilhena, a produção é pequena e em sua maioria de cunho religioso. Um exemplo é o grupo The Crasy formado em meados de 2000 por jovens da Igreja católica. Assim como o Manah, grupo desenvolvido por pessoas da Igreja Comunidade Cristã que além da atividade teatral engloba a música gospel. Também de cunho religioso é o grupo Tempus, criado por atores oriundo do Manah. O Canaã, de criação de Josemar Fernandes, surgiu de atividades estudantis, dentro da Escola Zilda da Frota Uchôa.
Além desses, em Vilhena atua, desde 2004, o grupo de teatro Wankabuki surgido da iniciativa do professor Oswaldo Gomes Oliveira e das  acadêmicas da Universidade Federal de Rondônia Valdete Sousa, Diomar Soares e Núbia Rodrigues, em 16 de agosto de 2003. O grupo montou Morte e Vida Severina uma adaptação do texto de João Cabral de Melo Neto por Luiz Antônio de Araújo, A Lenda da Ecologia, texto do Prof. Oswaldo Gomes, e o texto Tragédia no Lar adaptação das poesias de Castro Alves por Valdete Sousa.

3. CONCLUSÃO
                  Conclui-se então que o início das artes cênicas no Estado ocorre sem planejamento ou teoria a seguir. Mesmo assim, houve um aprimoramento e surgiram técnicas, textos e grupos ao longo da história. Do teatro dos grupos do Madeira-Mamoré e de Dona Labibe, poucos dados restaram.         As apresentações para o público dos cinemas portovelhenses da década de 50, ocorridas nos intervalos das trocas de fitas, serve como marca de um período e do comportamento de um povo. Assim como, é prova da evolução do teatro local que, nesse momento, migra das casas e clubes para o palco dentro dos cinemas. O público, também é outro. Quem vai ao cinema tem o intuito da diversão, o teatro passa a ser mostrado para um público seleto e elitizado.
                  O período promissor do teatro de Rondônia firma-se nas formações de grupos, prevalece a “idéia coletiva”. Assim, as décadas de 70, 80 e 90 serão repletas de formações e desaparecimentos de grupos. Esse movimento, serviu para que os profissionais se aprimorassem, são geradas oficinas, cursos, discussões, festivais, seminários e todo tipo de atividades que sem a coletividade ficaria mais difícil ocorrer. Nos últimos anos,  observa-se uma mudança de comportamentos. Ainda há, certamente, muitos grupos desenvolvendo-se, principalmente no interior do estado, mas vigora os princípios de individualidade. Os profissionais das artes cênicas estão aprendendo a trabalhar como nos grandes centros culturais: um produtor que contrata diretor, atores, iluminador, e todos os profissionais necessários.
                  Fato é que as produções rondonienses existem e possuem valor reconhecido, tanto dentro do estado quanto fora dele. É o que se vê nas participações feitas por grupos locais em festivais no Acre, Manaus, Recife, entre outras localidades. Dessa maneira, resta concluir-se que esta pesquisa comprova a existência das artes cênicas de Rondônia a qual segue uma linha evolutiva paralela aos acontecimentos no Brasil, com suas particularidades e necessidades.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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MOISÉS, M. A análise literária. 15ed. São Paulo: Cultrix, 2005.
PEIXOTO, Fernando. O que é teatro. 14ed. São Paulo: Brasiliense, 1995.
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STANISLAVSKI, Constantin. A preparação do ator. 21ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.




[1] Graduada em Letras pela Universidade Federal de Rondônia. E-mail: valdetesous@hotmail.com