Adailtom Alves Teixeira[1]
A década de 1980, no que tange à história do
teatro em Porto Velho, realmente foi um momento histórico de muita efervescência. Seja
pelo fato do Brasil estar saindo de uma ditadura; seja pela organização enquanto
unidade federativa (o estado de Rondônia foi criado em 1982); seja pela chegada
de artistas de outros estados do Brasil que aportaram por aqui trazendo suas
experiências e enriquecendo a cena; seja pela tentativa dos próprios artistas se
organizarem e
buscarem um maior contato com outros artistas de outros estados do Brasil, inicialmente criando a
Federação de Teatro de Rondônia e participando da Confederação Nacional do
Teatro Amador (CONFENATA), criando festivais e outras ações; seja pela junção
de tudo isso. De fato, ainda não podemos dar respostas definitivas, pois nossa pesquisa está
em andamento. Nosso objetivo tem sido juntar as peças do quebra-cabeça e provocar os estudantes, aguçando sua curiosidade sobre a produção teatral rondoniense, já que a produção acadêmica sobre o tema é rara. Nesse aspecto, esse blog se insere nesse objetivo, ao reunir os diversos materiais que vamos encontrando ou construindo.
Matéria sobre o Água de Chucalho - Foto a partir do arquivo de Bira Lourenço |
No último dia 04 de maio
convidamos um dos integrantes do grupo Água de Chucalho para uma conversa sobre
o trabalho e sobre a experiência desse coletivo pelas ruas e por alguns teatros do Brasil. A
conversa ocorreu durante uma aula da matéria Teatro Brasileiro do Curso
Licenciatura em Teatro da Universidade Federal de Rondônia. Nosso convidado:
Birivaldo Lourenço. Muito conhecido na cena artística, sobretudo na área
musical, mas com outro nome: Bira Lourenço.
Bira Lourenço em conversa com estudantes da UNIR |
A incursão do Bira pela área do
teatro se deu em 1986, a convite dos integrantes do Água de Chucalho para
participar de um Festival que ocorreu em Colorado do Oeste naquele ano. Na sequência o
artista foi convidado a integrar a circulação que o grupo faria no ano seguinte,
1987, Brasil afora, com o objetivo de chegar até a Argentina. Na bagagem dois
espetáculos: Chico Rei de Walmir Ayala (espetáculo de palco)
e Quem matou Zefinha? da sergipana Virgínia Lúcia (espetáculo
de rua).
O Água de Chucalho, até onde se
sabe, foi o primeiro grupo de Rondônia a sair, circular por outros estados do
Brasil. Na circulação, não conseguiram chegar até o destina final, marcado para ser a Argentina, mas foram até o
Uruguai e retornaram apresentando pelo Nordeste do Brasil. Na viagem de volta, passando por diversos estados
da região Nordeste, encontraram outros grupos, como o Alegria, Alegria do Rio
Grande do Norte - coletivo que tem uma importância significativa na organização
do teatro de grupo, pós-Confenata, já que participou do início do Movimento Brasileiro de
Teatro de Grupo (este, ainda pouco estudado).
Bira Lourenço relatou com
muitos detalhes a circulação do Água de Chucalho, na qual apresentaram bem mais
o espetáculo de rua, já que precisavam apenas dos recursos já disponíveis e as praças onde estavam, público sempre teve. Nos
contou também sobre a descoberta e o prazer em
fazer arte, quando, por exemplo,
se viu dormindo em um banco de praça, mesmo tendo casa e um bom emprego, mas
que, naquele momento, sentia uma imensa felicidade em estar com os parceiros
naquela "divertida" jornada. Na sua perspectiva, ali descobriu o significado de fazer arte.
Bira Lourenço e estudantes do Curso Licenciatura em Teatro/UNIR |
Na circulação o grupo chegou até
Montevideo no Uruguai, passando antes por Curitiba, Londrina, Pelotas, entre
outras cidades e, ao retornar, apresentaram-se em Salvador, Aracaju, Natal, Recife,
Fortaleza, São Luís e Brasília.
Bira levou uma peça gráfica
sobre o Água de Chucalho, na apresentação do grupo podemos ler o seguinte:
"O Água de Chucalho foi fundado
no dia 10 de abril de 1986, na cidade de Porto Velho, com o propósito de
mostrar um Trabalho de Teatro de bonecos e de atores, buscando levar sempre uma
temática forte, lutando
por uma transformação social e procurando também
dar uma boa qualidade aos espetáculos.
Capa da peça gráfica sobre a peça Chico Rei Arquivo: Bira Lourenço |
As montagens produzidas pelo
Grupo são as seguintes: QUEM MATOU ZEFINHA? de Virgínia
Lúcia, direção de Ricardo Moreira; CHICO REI de Walmir Ayala,
direção de Ronildo Moreira e CHUCALHANDO de Ricardo Moreira,
direção de Xuluka.
Quanto a natureza da produção,
viabiliza-se montagens com a venda de espetáculos, animação de festas infantis,
doações etc. Estamos nas ruas, nos palcos, nos bairros, nas praças e nas bocas."
Além dos artistas citados acima
(Ronildo e Ricardo Moreira, Xuluka), e de acordo com a peça gráfica já citada,
participaram também do grupo Braz Dy Vinu, Lucineide dos Santos, Ednéia
Sanches, Claudia de Castro e Bira Lourenço.
Jussara Assmann, Adailtom Alves e Bira Lourenço |
[1] Professor
no Curso Licenciatura em Teatro da UNIR; mestre em Artes pela Universidade
Estadual Paulista (UNESP); integrante do Teatro Ruante.
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