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domingo, 28 de maio de 2017

Zaine Diniz: das brincadeiras infantis para os palcos

Adailtom Alves Teixeira[1]

A sul-mato-grossense Zaine Diniz, nascida na pequena cidade de Fátima do Sul, na região de Dourados/MS, chegou ao estado de Rondônia a 25 anos, veio para trabalhar em sua área de formação: pedagogia. Pertencente a uma família de músicos, em sua lembrança atuava desde criança, quando inventava histórias com outras crianças da família e rodava o chapéu entre os mais velhos. Ainda assim, prefere dizer que começou a fazer teatro em Cacoal com Chicão Santos, hoje seu companheiro de arte e de vida. A música, as artes plásticas, as manifestações populares, como as festas juninas, fazem parte de sua vida, ser atriz, como afirmou, “é mais uma função”. Zaine faz essa afirmação como quem diz: a mulher já tem que fazer tantas coisas na vida, escolhi também o teatro como uma forma de expressão.
Foto: Patrícia Pessoa

Seu início ocorreu dentro do projeto “Salto Teatral”, em 1990, com o Grupo Essência das Coisas, que coordenava um espaço da prefeitura, onde ocorriam as oficinas teatrais nos fins de semana. Apesar de fazer teatro a bastante tempo, falou da dificuldade de manter-se nessa área; seu relato chama a atenção para a ausência de políticas públicas, sendo contemplada com editais públicos – aí já residindo em Porto Velho – apenas a partir de 2006, quando, finalmente acessam verbas federais. Zaine destacou ainda a falta de políticas públicas no município e o estado de Rondônia, por isso a dificuldade em se manter um trabalho continuado. Mesmo assim, só esteve longe dos palcos quando mudou de Cacoal e foi para uma cidade menor, período que coincide com sua gravidez.

Chegando em Porto Velho, ela trabalhou em quatro espetáculos do grupo Raízes do Porto, sobretudo os infantis, e que guarda com alegria em sua memória. Zaine destacou a importância de trabalhar em grupo, pois só coletivamente é possível “realizar algumas loucuras”, como afirmou. Paralelo ao trabalho no Raízes do Porto, fundou em 2005, novamente com Chicão Santos, O Imaginário. Em 2006 o grupo O Imaginário foi contemplado com o primeiro edital público, com o qual realizaram a montagem de O Mistério do Fundo do Pote, de Ilo Krugli (argentino radicado no Brasil) e direção de Narciso Telles. Com o espetáculo circularam todo o estado de Rondônia e a região Norte.
Foto: Patrícia Pessoa

Depois vieram outros espetáculos: Ponto de Fuga, As Sombras de Lear, trabalho desenvolvido com Bya Braga. É nesse trabalho que, segundo Zaine, veio o desejo de investigar mais a questão da mulher, do feminino e seus problemas em sociedade. Muitas foram as histórias de mulheres que recolheram, de onde nasceu As Filhas da Mata. Teve ainda as produções de Olhos Verdes da Neurose, Varadouro (pesquisa sobre os coronéis de barranco), A Ferrovia dos Invisíveis (sobre a construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré). A última montagem, Mulheres de Aluá, criado a partir de processos jurídicos do início do século XX, circulou pela região Norte e ainda continua em cartaz.

Nem todas as produções Zaine está em cena, mas esteve envolvida de alguma forma com todos os processos realizados pelo O Imaginário, que, além dos espetáculos teatrais, coordena o espaço cultural Tapiri (próprio), onde é realizado um trabalho de formação desde 2012 e, além disso, o grupo idealizou e produz dois festivais: Mostra Tapiri de Breves Cenas e Monólogos e Amazônia Encena na Rua, uma referência  para os fazedores de teatro de rua do Brasil.
Divulgação: Mulheres do Aluá - Zaine Diniz, Amanara Brandão,
Agrael de Jesus e Flávia Diniz

Como se pode ver, muitas foram as realizações e as contribuições para a cena rondoniense. A própria Zaine afirmou que, ao preparar as fotos para mostrar para os presentes, não se dava conta do quanto já havia produzido. Que venham mais produções e realizações, ainda que os tempos não sejam favoráveis à arte.

Confira abaixo os links de áudio e vídeo do encontro realizado no dia 25 de maio de 2017, na Sala do Piano, Unir-Centro.










[1] Professor do Curso Licenciatura em Teatro da UNIR; mestre em Artes pela UNESP; coordenador do Projeto Conversas de Quinta: arte e cultura em debate. 

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