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sexta-feira, 31 de março de 2017

O Rio Madeira, seus peixes e a história do Teatro de Porto Velho


José Maria Lopes Junior[1]

Ângela Cavalcante em Encontro de Quinta: arte e cultura em debate
Sala do Piano - Foto Adailtom Alves
Na quinta-feira 30/03 teve início o projeto “Conversas de Quinta: arte e cultura em debate”, uma ação de extensão do Curso de Licenciatura em Teatro da Unir, e coordenado pelo professor Adailtom Alves.

O projeto tem como objetivo organizar, registrar e cartografar a história do teatro de Rondônia a partir de relatos da memória narrados pelos convidados no Conversas de Quinta.

No primeiro encontro o público foi presenteado com uma grande aula/relato de Ângela Cavalcante. Ângela é atriz, professora da Unir, diretora teatral e uma das fundadoras do grupo Quebracabeça; foi também uma das responsáveis por implantar o primeiro curso acadêmico de teatro em Porto Velho, parceria da UNIR/UNB.

A convidada, de uma maneira sensível, sincera e descontraída, apresentou para o público sua trajetória teatral, a partir de um recorte artístico, ou seja, pelas peças apresentadas; um recorte histórico, por meio dos contextos do teatro em Porto Velho desde a década de 70 e que costuraram o seu fazer artístico;  e um recorte geográfico, a partir de seus deslocamentos teatrais,  saindo do Rio de janeiro, passando pela Bolívia, Peru, Chile, Uruguai e Argentina e por fim seus trânsitos pela Amazônia (Amazonas, Acre e Rondônia).

A partir de seus relatos, a atriz traz depoimentos que nos emocionam e mostram que o fazer teatral e os momentos históricos que passamos é um constante ir-e-vir. Um começar-recomeçar, inventar-reinventar. Ouvir a narrativa de Ângela foi uma valiosa aula de história do teatro, não só rondoniense, mas nacional. O micro e o macro se entrelaçavam em suas narrativas. A América Latina ficou muito próxima da gente em seus relatos. As angústias, inquietações, alegrias e frustrações de uma atriz que toma a sua trajetória para falar do sentido do teatro em seu percurso, da formação de grupos teatrais, da relação com a política, dos impasses com governos e ditadura.
Ângela Cavalcante e Alejandro Bedotti em cena - Foto recolhida na internet

Os relatos da memória de Ângela trouxeram à tona questionamentos sobre o fazer artístico e as relações com a política de uma Rondônia de antes e de agora. Ela não narrou um relato perdido do passado. Pelo contrário, atualiza passados presentes. O seu testemunho nos instiga a pensar o nosso contexto atual nacional e rondoniense. Nos deixa a certeza de que é sempre necessário olhar para traz e consultar a história e a memória para que assim, possamos entender e se colocar no presente.

Enriquecedor escutar a narrativa dessas quatro décadas sobre os caminhos e obstáculos do teatro em Porto Velho, e assim chamar a nossa atenção de que somos piabinhas diante de grandes peixes que já enfrentaram o nosso Rio Madeira. Assim, é sempre necessário resgatar a história, a memória para que não mergulhemos na ingenuidade de que estamos reinventando o tablado no Teatro de Rondônia. Terra de constantes recomeços e que muitas vezes dá a impressão que tudo está sempre começando a partir de agora. Sem olhar para traz e ver os grandes cardumes de peixes que por aí estão e já fizeram histórias.

Parabéns Ângela, sucesso para o projeto.




[1] Doutor em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia; professor adjunto da Universidade Federal de Rodônia, Licenciatura em Teatro.

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