José Maria Lopes Junior[1]
Ângela Cavalcante em Encontro de Quinta: arte e cultura em debate Sala do Piano - Foto Adailtom Alves |
O projeto tem como objetivo organizar, registrar e cartografar a
história do teatro de Rondônia a partir de relatos da memória narrados pelos
convidados no Conversas de Quinta.
No primeiro encontro o público foi presenteado com uma grande aula/relato
de Ângela Cavalcante. Ângela é atriz, professora da Unir, diretora teatral e
uma das fundadoras do grupo Quebracabeça; foi também uma das responsáveis por
implantar o primeiro curso acadêmico de teatro em Porto Velho, parceria da
UNIR/UNB.
A convidada, de uma maneira sensível, sincera e descontraída,
apresentou para o público sua trajetória teatral, a partir de um recorte
artístico, ou seja, pelas peças apresentadas; um recorte histórico, por meio
dos contextos do teatro em Porto Velho desde a década de 70 e que costuraram o
seu fazer artístico; e um recorte
geográfico, a partir de seus deslocamentos teatrais, saindo do Rio de janeiro, passando pela Bolívia,
Peru, Chile, Uruguai e Argentina e por fim seus trânsitos pela Amazônia (Amazonas,
Acre e Rondônia).
A partir de seus relatos, a atriz traz depoimentos que nos
emocionam e mostram que o fazer teatral e os momentos históricos que passamos é
um constante ir-e-vir. Um começar-recomeçar, inventar-reinventar. Ouvir a
narrativa de Ângela foi uma valiosa aula de história do teatro, não só
rondoniense, mas nacional. O micro e o macro se entrelaçavam em suas
narrativas. A América Latina ficou muito próxima da gente em seus relatos. As
angústias, inquietações, alegrias e frustrações de uma atriz que toma a sua
trajetória para falar do sentido do teatro em seu percurso, da formação de
grupos teatrais, da relação com a política, dos impasses com governos e
ditadura.
Ângela Cavalcante e Alejandro Bedotti em cena - Foto recolhida na internet |
Os relatos da memória de Ângela trouxeram à tona questionamentos
sobre o fazer artístico e as relações com a política de uma Rondônia de antes e
de agora. Ela não narrou um relato perdido do passado. Pelo contrário, atualiza
passados presentes. O seu testemunho nos instiga a pensar o nosso contexto
atual nacional e rondoniense. Nos deixa a certeza de que é sempre necessário
olhar para traz e consultar a história e a memória para que assim, possamos
entender e se colocar no presente.
Enriquecedor escutar a narrativa dessas quatro décadas sobre os
caminhos e obstáculos do teatro em Porto Velho, e assim chamar a nossa atenção
de que somos piabinhas diante de grandes peixes que já enfrentaram o nosso Rio
Madeira. Assim, é sempre necessário resgatar a história, a memória para que não
mergulhemos na ingenuidade de que estamos reinventando o tablado no Teatro de Rondônia.
Terra de constantes recomeços e que muitas vezes dá a impressão que tudo está
sempre começando a partir de agora. Sem olhar para traz e ver os grandes
cardumes de peixes que por aí estão e já fizeram histórias.
Parabéns Ângela, sucesso para o projeto.
[1]
Doutor em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia; professor adjunto
da Universidade Federal de Rodônia, Licenciatura em Teatro.
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