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domingo, 10 de novembro de 2024

A cultura de um tempo fluido

 

Adailtom Alves Teixeira[1]

Se como seres humanos somos o resultado cultural de onde fomos socializados (Laraia, 2005), em um mundo globalizado, integrado por um único modo de produção que regula nossas vidas, somos todos/as afetados e formados (postos na forma) por esse tempo e sistema do qual não temos como nos desvincularmos. Mesmo a crítica ou oposição, é feita a partir de um ponto de vista de dentro. Como alerta Terry Eagleton: “Cultura é uma dessas raras ideias que têm sido tão essenciais para a esquerda política quantos são vitais para a direita [...]” (2005, p. 11). Mas nosso ponto aqui será as mudanças profundas realizadas pelo capitalismo tardio.    

Tanto Zygmunt Bauman em Vidas Desperdiçadas (2005), como Richard Sennett em A Cultura do Novo Capitalismo (2006), apresentam uma crítica contundente à forma como a sociedade contemporânea foi moldada pelo capitalismo tardio. Ao abordar a fluidez e a volatilidade que caracterizam a modernidade atual, eles destacam como as mudanças no trabalho, no chamado “talento” e no consumo afetaram profundamente a vida humana. Essa transformação cultural, segundo ambos os autores, não trouxe a tão prometida e propagandeada liberdade, mas, ao contrário, aprisionou os indivíduos em novas formas de insegurança, precariedade e alienação.

Sennett descreve como a aceleração do tempo se tornou uma característica central da vida moderna. Na cultura capitalista contemporânea, o tempo não é apenas um recurso, mas um campo de batalha onde todos lutam para não ficarem para trás. A lógica de mercado demanda que os trabalhadores migrem constantemente de uma tarefa para outra, de um emprego para outro, de um lugar para outro. O "ideal do artesanato", que valorizava a dedicação e o aprofundamento em uma habilidade específica, foi relegado ao passado. Para Bauman, esse deslocamento contínuo reflete a liquidez da modernidade, pois nesse nosso tempo tudo é transitório e descartável, inclusive as pessoas.

O tempo, que antes oferecia um senso de continuidade e planejamento (como nas carreiras lineares do passado), tornou-se uma série de momentos fragmentados, em que a acumulação de experiência ou conhecimento a longo prazo é desvalorizada. O trabalhador deve ser flexível, capaz de se adaptar rapidamente a novas demandas. Nesse cenário, a estabilidade e a profundidade dão lugar à superficialidade e ao imediatismo.

A Crise do Artesanal

Para Sennett, o novo capitalismo destrói o ideal do trabalho artesanal. Fazer algo bem feito, simplesmente pelo prazer de fazê-lo, perdeu sentido em um contexto onde o que importa é a capacidade de executar múltiplas tarefas, muitas vezes desconectadas entre si. “A especialização profunda é substituída pela "portabilidade de habilidades”, valorizando-se profissionais que podem ser deslocados para diferentes funções sem muita preparação.

Bauman complementa essa análise ao mostrar que, em um mundo governado pela lógica do consumo, o valor do trabalho está atrelado à sua utilidade imediata e descartabilidade. Se no passado havia um vínculo entre a identidade do trabalhador e o seu ofício, hoje, essa relação é fragmentada. Os trabalhadores tornaram-se meras engrenagens, peças substituíveis, sempre à mercê das demandas do mercado.

Daí a chamada modernidade líquida de Bauman, enfatizar o conceito de "vidas desperdiçadas" ou refugos humanos. A aceleração do tempo e a superficialidade no trabalho levam a um aumento no número de indivíduos considerados descartáveis, ou como chamou Fernando Henrique Cardoso, "inimpregáveis" – pessoas que, devido à sua idade, falta de qualificação ou até mesmo obsolescência tecnológica, são descartadas pelo sistema. Sennett reforça essa ideia ao observar que a lógica do capital privilegia o jovem, flexível e barato, enquanto os mais velhos, com suas habilidades que se tornam obsoletas rapidamente, são deixados de lado.

O medo de se tornar supérfluo, redundante, isto é, refugo humano, assombra os trabalhadores, que precisam constantemente requalificar-se para se manterem relevantes. A incerteza e o medo se tornam os novos motores de uma economia que demanda eficiência e lucratividade instantâneas. Desse modo, a criação de espantalhos é outro aspecto desse problema, isto é, o outro, sobretudo o imigrante para as economias desenvolvidas, passa a ser o inimigo de plantão.

Uma política para ser consumida

Sennett também explora como o consumo permeia não apenas o mercado, mas todas as esferas da vida, incluindo a política. Os cidadãos são tratados como consumidores, cuja insatisfação é capitalizada para gerar lucros e manipular o mercado político. Bauman identifica esse fenômeno como uma alienação extrema, onde até mesmo os desejos e as aspirações das pessoas são moldados por uma lógica consumista. A política torna-se um produto, com plataformas que mais se assemelham a estratégias de marketing do que a ideais de transformação social. Conforme salienta Sennett, cinco aspectos afastam o consumidor-espectador-cidadão da política progressista: ele é

[...] (1) convidado a aprovar plataformas políticas que mais parecem plataformas de produtos e (2) diferenças laminadas a ouro; (3) convidado a esquecer a “retorcida madeira humana” (como se referia a nós Immanuel Kant) e (4) dar crédito a políticas de mais fácil utilização; (5) aceitar constantemente novos produtos políticos em oferta (2006, p. 148).

 

Nesse contexto, o engajamento político autêntico é corroído, pois os cidadãos-consumidores tornam-se passivos, movidos mais pelo desejo de satisfação imediata do que pela reflexão crítica. A democracia, assim, é simplificada e diluída, transformando-se em um espetáculo onde a participação se resume a um "comprar" simbólico de ideias políticas, muitas vezes já mastigadas e pré-formatadas para fácil digestão.

Uma falsa liberdade para consumo

Os defensores do novo capitalismo argumentam que ele oferece maior liberdade, mas tanto Bauman quanto Sennett discordam. A liberdade prometida é ilusória: em vez de promover uma autonomia real, ela aprisiona os indivíduos em um ciclo constante de consumo e atualização. A liberdade de escolha, evidentemente, é superficial, pois, na prática, as opções são limitadas às mercadorias e às experiências oferecidas pelo mercado, seja ele de um novo governo, seja de um novo mundo.

A "paixão consumptiva", como Sennett descreve, reflete a necessidade constante de buscar algo novo, mesmo que esse algo não satisfaça plenamente. No entanto, essa busca constante é, paradoxalmente, uma fonte de alienação e solidão. A frustração gerada pela insaciabilidade do consumo é frequentemente canalizada para o campo político, criando um ambiente onde o populismo e as respostas simplistas ganham força.

Considerações finais

A reflexão sobre a cultura no capitalismo contemporâneo, a partir de Bauman e Sennett, revela um cenário sombrio: um mundo onde o tempo é acelerado, o talento é descartável, e o consumo se tornou o único paradigma válido. A promessa de liberdade e progresso se desfaz diante de uma realidade em que os indivíduos são constantemente substituídos, descartados e manipulados. Assim, o capitalismo tardio não trouxe a liberdade que prometia, mas sim uma sociedade mais fragmentada, onde as vidas são desperdiçadas em nome de um progresso que serve apenas a uma elite cada vez mais rica. Kohei Saito em O capital no antropoceno afirma que “[...] que os 26 capitalistas mais ricos do mundo controlam tanta riqueza quanto os 3,8 bilhões mais pobres (aproximadamente metade da população mundial)” (2024, p. 143).

Medo, por rumarmos ao desconhecido e por estarmos pressionados pelo iminente descarte, nos sobra a ânsia de mergulhar cada vez mais fundo no mundo das mercadorias, seja ela reais ou simbólicas:

Em suma, as mercadorias encarnam a derradeira falta de razão e a capacidade que as escolhas têm de serem revogáveis, assim como a extrema descartabilidade dos objetos escolhidos. Mais importante ainda, parecem colocar-nos no controle. Somos nós, os consumidores, que traçamos a linha divisória entre o útil e o refugo. Tendo por parceiras as mercadorias, podemos deixar de nos preocuparmos em terminar na lata de lixo (Bauman, 2005, p. 161).

 

Ao final, se temos todos/as nos tornado meros consumidores/as, resta-nos a pergunta: é possível resgatar um sentido de pertencimento e propósito em um mundo que valoriza mais o efêmero do que o duradouro? Teremos capacidade de realizarmos as mudanças necessárias? Fato é que é mais que necessário repensar radicalmente as estruturas que regem nossas vidas, antes que nos tornemos, todos, meros consumidores em um espetáculo sem fim.

 

Referências

BAUMAN, Zygmunt. Vidas desperdiçadas. Trad.: Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.

EAGLETON, Terry. A ideia de cultura. Trad.: Sandra Castello Branco. São Paulo: EdUnesp, 2005.

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 18ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.

SAITO, Kohei. O capital no antropoceno. Trad.: Caroline M. Gomes. São Paulo: Boitempo, 2024.

SENNETT, Richard. A cultura do novo capitalismo. Trad.: Clóvis Marques. Rio de Janeiro: Record, 2006.



[1] Professor adjunto da Universidade Federal de Rondônia (UNIR). Doutor e Mestre em Artes pelo Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (Unesp); graduado em História; autor dos livros Circo Teatro Palombar: somos periferia; potência criativa (Fala, 2024), Teatro de rua: identidade, território (Giostri, 2020) e coorganizador de Paky`op: experiência, travessias, práxis cênica e docência em teatro (Edufro, 2022).

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

Carta de Solidariedade ao Grupo de Teatro Wankabuki

 Carta de Solidariedade ao Grupo de Teatro Wankabuki

 

Rondônia, setembro de 2024

 

Amigos/as do Grupo de Teatro Wankabuki,

 

É com profunda indignação e tristeza que recebemos as notícias recentes sobre as tentativas de cerceamento e perseguição ao trabalho de vocês, motivadas por uma onda de pânico moral injusta e equivocada e que, infelizmente, grassa em nossa sociedade. Em um país onde a Constituição Federal, no artigo 5º, inciso IX, garante a livre expressão artística, é inadmissível que um coletivo cultural com tamanha relevância para Vilhena e todo o estado seja alvo de ataques que violam esse direito fundamental.

O Grupo de Teatro Wankabuki, com mais de duas décadas de dedicação à cultura do estado de Rondônia, tem contribuído para o enriquecimento de nossa cultura, seja por meio da produção de espetáculos teatrais, seja pela realização do Festival Amazônico de Teatro, debates, entre outras ações. A criação da Escola Livre de Teatro é mais um exemplo do claro do compromisso de vocês com a formação de novos artistas e o fortalecimento do cenário cultural local. A iniciativa de oferecer um espaço para que a arte floresça, independentemente das correntes ideológicas que a sociedade impõe, merece ser celebrada, não condenada. Cabe lembrar que nenhuma sociedade civilizada prescindiu da arte, que sempre impulsionou a humanidade em direção ao senso crítico e à sensibilização; toda arte é um meio de conhecimento da realidade e da condição humana no mundo.

Por isso, toda manifestação artística ou mesmo um simples exercício no processo de aprendizagem, não deve ser motivo de perseguição, mas sim de reflexão. A arte tem o poder de questionar, provocar e transformar. É por meio desses questionamentos que a sociedade avança, confrontando suas próprias contradições e limitações. Lamentavelmente, ao invés de valorizar essa contribuição essencial do campo artístico, setores da nossa sociedade preferem alimentar o pânico moral, que só serve para empobrecer o debate público e limitar a liberdade criativa.

Neste momento difícil, saibam que vocês não estão sozinhos(as). Acreditamos firmemente no valor do trabalho desenvolvido pelo Wankabuki e na importância de uma sociedade onde a diversidade de vozes e expressões artísticas possa prosperar livremente. Estamos juntos(as) na defesa do direito à liberdade de expressão artística, na resistência contra a censura e na promoção de uma cultura mais justa e inclusiva.

 

Com solidariedade e admiração,

1.    Adailtom Alves Teixeira – professor do Curso Licenciatura em Teatro/UNIR

2.    Teatro Ruante – Porto Velho/RO

3.    Selma Pavanelli – Conselheira de Cultura do Estado – Setorial Circo

4.    Alexandre Falcão de Araújo - professor do Curso de Licenciatura em Teatro/UNIR

5.    Laudemir P. Santos (Lau Santos). Artista da Cena e Professor do Curso de Licenciatura em Teatro/UNIR

6.    Luiz Daniel Lerro – professor do Curso Licenciatura em Teatro/UNIR

7.    Jória Lima – Associação Cultural Anômade. Porto Velho

8.    Frank Busatto – Artista de artes visuais

9.    Associação Cultural, Educação, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável Diversidade Amazônica (ACEMDA)

10.  Associação Coletivo Madeirista – ACME

11.  Andréa Melo – Coletivo Gaia

12.  Poliana Espíndola – professora e representante da Setorial de Artes Visuais, CMPC de Porto Velho

13. Marfiza de França - cantora/produtora cultural - Movimento Pró-Cultura Rondônia

14. Édier William - Produtor Cultural

15. Francisco Leilson Chicão/ presidente Federação Rondoniense do Artesanato

16. Sindicato dos Artistas e técnicos em Espetáculos de Diversões de Rondônia – Sated/RO

17. Associação de Artes e Cultura Arterial

18. O Imaginário - Porto Velho - RO

19. Taquara Produções LTDA, Porto Velho - Rondônia

20. Cultura Rock Underground - Ji-Paraná – RO

21. Walterlina Brasil - Docente Titular Curso Pedagogia/UNIR e atriz

22. Izabela Lima – cantora e produtora cultural (Porto Velho)

23. Leoni Taurino – Presidente da Associação dos Artesãos de Pimenta Bueno, Conselheira da cultura e conselheira de Turismo

24. Helionice de Moura Silva - Presidente da ASELCI - Rolim de Moura

25. João Marcos Pancoti de França – Cantor, Compositor, Professor de música

26.  Taiane Sales Nunes - artista e produtora cultural,  Porto Velho

27.  Berenice Perpetua Simão - Presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais de P. Velho/RO

28. Joaquim Lopes Louredo - Dirigente sindical dos Urbanitários de Rondônia

29. Naviola Banda

30. Val Barbosa - artista e Produtora Cultural

31.  Andressa Batista - produtora cultural

32. Ponto de Cultura, Memória, Leitura e Mídia Livre Serpentário Produções

33. Produz Filmes – Rolim de Moura

34. Grupo Jurubebas de Teatro - Manaus/AM

35.    Fada Inad – Ji-Paraná/RO

36.    Associação Waraji – Guajará-Mirim

37.    Suely Rodrigues – produtora cultural e diretora da Associação Cultural Raízes do Porto


Apoios de outros estados:

RBTR - Rede Brasileira de Teatro de Rua

1          Amora Balaio Criativo - Santo André/SP

2          Árvore Casa das Artes - Vitória/ES

3          Associação Cultural Bigorna/RJ

4          Associação Nacional dos Títeres do Teatro Lambe-Lambe

5          Associação Pano de Roda - MG

6          Bando Golíardis - São Paulo/SP

7          Boca Suja Coletivo de Rua e Mostra de Performance na Rua - MS

8          Bonita Lampião - São Paulo/SP

9          Brava Companhia - São Paulo/SP

10       Bugiganga de Artes - São Paulo/SP

11       Cafi Otta - São Paulo - SP

12       Casa Vermelha - SC

13       Centro de experimentação artístico e Cultural Encanto dos Alagados - AP

14       Centro de Pesquisa para o Teatro de Rua Rubens Brito - SP

15       CETA - Centro Experimental de Teatro e Artes - Nova Iguaçu/RJ

16       CHAP - RJ

17       Cia 2 em Cena - Recife/PE

18       Cia As Marias - SBC/SP

19       Cia Bornal de Bugigangas - Assis/SP

20       Cia Chirulico - Macaé/RJ

21       Cia Circunstância - Belo Horizonte/MG

22       Cia Colcha de Retalhos - São Paulo/SP

23       Cia Cultural Ciranduís - Janduís/RN

24       Cia de Teatro Madalenas - Belém/PA

25       Cia de Teatro Nu Escuro - Goiânia/GO

26       Cia de Teatro Soluar - João Pessoa/PB

27       Cia Estável de Teatro - São Paulo/SP

28       Cia Fábrica SP - Peruíbe/SP

29       Cia Forrobodó de Teatro - João Pessoa/ PB

30       Cia KHAOS Cênica - Canoas - RS

31       Cia Lá de Casa de Circo, Teatro e Educação - Sorocaba-SP

32       Cia LaCasa – Maceió/AL

33       Cia Lamparim de Circo e Teatro - Quixeramobim/CE

34       Cia MiraMundo - São Luís/MA

35       Cia Mundu Rodá - São Paulo

36       Cia Nega Luzia - São Paulo

37       Cia Opinião - SP

38       Cia Pituã - ES

39       Cia Sorteio de Contos - Belém/Pa

40       Cia Teatro dos Ventos - Osasco-SP

41       Cia Teatro Em Cordel - Edmilson Santini - RJ

42       Cia Visse e Versa de Ação Cênica - Rio Branco - Acre

43       Cia Vulcânicas - São Paulo - SP

44       Circo Pratodos - Mariana/MG

45       Circo Teatro Capixaba - Colatina/ES

46       Circo Teatro Palombar - São Paulo/SP

47       Circovolante - Mariana/MG

48       Cirquinho do Revirado - Criciúma/SC

49       Coletivo Casarão do Boneco - Belém/PA

50       Coletivo CLanDesTino - Dourados/MS.

51       Coletivo Fulô - Crato - CE

52       Como La em Casa Teatro & Cia Bella - SP/SP

53       Consuarte ltda - PE

54       Corpos & Sombras - teatro e circo - Novo Hamburgo -RS

55       Duo Caponata- Sorocaba/SP

56       Dzaine Produções João Pessoa PB

57       Ecoaecoa Coletivo - Porto Alegre/RS

58       ERRO Grupo - Florianópolis - SC

59       Escarcéu de Teatro - Mossoró/RN;

60       Eslipa - Rio de Janeiro/RJ

61       Esquadrão da Vida - DF

62       Fábrica de Teatro do Oprimido - Londrina-PR

63       Fanfarrosas - São Paulo

64       Fátima Sobrinho - Belém/Pa

65       Federação de Teatro do Acre- FETAC /AC

66       Flor e Espinho - Campo Grande/MS

67       Gira Cia Andante - Miguel Pereira/RJ

68       Grupo A Pombagem - Salvador-Ba

69       Grupo Casa3 - Guarujá-SP

70       Grupo Cutucurim - Angra dos Reis-RJ

71       Grupo de teatro De Pernas Pro Ar - Canoas/RS

72       Grupo de Teatro de Rua Loucos e Oprimidos da Maciel - Recife/PE

73       Grupo de Teatro Quem Tem Boca é Pra Gritar - João Pessoa-PB

74       Grupo de Teatro Revirado - SC

75       Grupo exército Contra Nada

76       Grupo Experimental de Artes Vivarte Acre e Casa de Cultura Vivarte - Acre

77       Grupo Glacê - Guarulhos -SP

78       Grupo GRUTTA - Tangará da Serra/MT

79       Grupo Konga/RJ

80       Grupo Mãe da Rua - São Paulo

81       Grupo Manjericão - Porto Alegre/RS

82       Grupo Máscaras - Guaranésia - MG

83       Grupo OffSina - Rio de Janeiro - RJ

84       Grupo Olho Rasteiro - Curitiba/PR

85       Grupo Pombas Urbanas - São Paulo/SP

86       Grupo Populacho - Guarulhos/SP

87       Grupo Put's de Teatro - Toledo/PR

88       Grupo Rosa dos Ventos- Presidente Prudente SP

89       Grupo TAMTAN - Tanquinho-Bahia.

90       Grupo Teatral De 4 No Ato - Rio de Janeiro/RJ

91       Grupo teatral Hemisfério

92       Grupo Teatro de Caretas - CE

93       Grupo TIA - Canoas-RS

94       Grupo Ueba – Caxias do Sul-RS

95       Grupo Xingó - São Paulo/SP

96       Impacto Agasias Grupo de Teatro - São Paulo/SP

97       Instituto Potiguar de Cultura e Cidadania - RN

98       Ivanildo Piccoli - Brincantuar CNPq Ufal

99       Lacarta Circo Teatro de Rua - ES

100     Licko Turle - PELE NEGRA - Salvador/BA

101     Locômbia Teatro, Cantá, Roraima

102     Mamulengo Rasga Estrada - Presidente Prudente - SP

103     Mamulengo Riso Frouxo - São Paulo

104     Mamulengo Sem Fronteiras - DF

105     MARL – Movimento de Artistas de Rua de Londrina / PR

106     Movimento Cabuçu - Guarulhos - SP

107     Nativos terra rasgada - Sorocaba/SP

108     Nóis de Teatro - Fortaleza/CE

109     Núcleo Aclowndemia de Palhaçaria - Sorocaba/SP

110     Núcleo Ás de Paus - Londrina-PR

111     Núcleo Pavanelli - Tatuí/SP

112     Núcleo Sem Drama Na Cia da Cabra Orelana - São Paulo/SP

113     O Buraco d'Oraculo - São Paulo/SP

114     O Pessoal do Tarará - Mossoró/RN

115     OIgalê Cooperativa de Artistas Teatrais - RS

116     Os Mamatchas - Morón/Buenos Aires

117     Oskaraveyo, Ricardo Pavão Rio de Janeiro/ Uberlândia MG

118     Palhaço Piruá - Natal - RN

119     Palhaços Pindaiba - MG

120     Palhaços Trovadores - Belém/Pa

121     Povo da Rua - Porto Alegre/RS

122     Rué La Companhia- Guarulhos/SP

123     Salmonela Urbana Cia- Curitiba-PR

124     Será O Benedito?! / RJ

125     Som na Linha - Presidente Prudente/SP

126     Teatro de Rocokóz - São Paulo/SP

127     Teatro de Trincheira - Caraguatatuba - SP

128     Teatro em Trâmite - Florianópolis/SC

129     Teatro Imaginário Maracangalha - Campo Grande MS

130     Teatro Itinerante RJ (Marcondes Mesqueu)

131     Teatro Widia - Santos/SP

132     Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveis - Poa/RS

133     Troupe Teatral Espantalho - Arcoverde-PE

134     Trupe Arlequin - PB

135     Trupe Circuluz - Olinda - PE

136     Trupe Olho da Rua - Santos-SP

137     Trupe Será o Benedito - Caicó/RN

138     Turma Em Cena - RJ


quinta-feira, 20 de junho de 2024

Políticas Públicas de Cultura: Consequências Práticas

                                                                                                            Adailtom Alves Teixeira

O poeta Ferreira Gullar afirmou que "a arte existe porque a vida não basta". Essa frase sintetiza a profunda ligação entre arte e existência humana, refletindo a ideia de que arte e vida são indissociáveis. Temos uma necessidade intrínseca de arte porque buscamos beleza em nossas vidas, e a arte, em suas diversas formas, nos oferece um manancial de experiências e belezas. Mais do que isso, a arte é uma forma de conhecimento sobre o mundo, oferecendo perspectivas únicas e críticas sobre a realidade que nos cerca.

Imagem retirada da internet.

Nem toda arte cabe no mercado. Muitas manifestações artísticas, especialmente aquelas que desafiam o status quo ou que pertencem a culturas marginalizadas ou subalternizadas, não encontram espaço no circuito comercial. É nesse contexto que as políticas públicas de cultura se tornam essenciais. Elas garantem a existência e a promoção dessas formas de arte, assegurando que a diversidade cultural seja preservada e que todos tenham acesso a produções culturais, independentemente de sua rentabilidade.

As políticas públicas de cultura estão amparadas na Constituição Federal de 1988, que estabelece a cultura como um direito de todos e um dever do Estado. Esse amparo legal reforça a importância do investimento em cultura como uma responsabilidade governamental, não apenas uma questão de mercado. A Constituição reconhece que o fomento à cultura é fundamental para o desenvolvimento humano e social.

Um povo culto custa menos aos cofres públicos. Cidadãos com acesso à cultura desenvolvem um senso crítico mais apurado, são mais engajados e cuidam melhor de si mesmos e de suas comunidades. A arte é um elemento transversal que perpassa diversas áreas da vida, influenciando positivamente a educação, a saúde e a segurança. Políticas culturais eficazes podem, portanto, gerar economias em outras áreas do orçamento público ao promover uma sociedade mais educada e integrada.

Além disso, a arte é geradora de renda e não de acúmulo. As indústrias culturais e criativas contribuem significativamente para a economia, gerando empregos, incrementando renda e fomentando o turismo. Essa geração de renda e emprego, via de regra costuma ser sempre inclusiva e sustentável, valoriza não apenas os aspectos econômicos, mas também os sociais, culturais, fortalece comunidades etc.

As consequências práticas das políticas públicas de cultura são amplas e profundas. Elas garantem a democratização do acesso à arte, promovem a inclusão social, e preservam a diversidade cultural. Além disso, ao fomentar o desenvolvimento cultural, contribuem para a formação de cidadãos mais conscientes e participativos, fortalecendo a coesão social.

Em suma, as políticas públicas de cultura são fundamentais para assegurar que a arte continue a existir e a florescer, enriquecendo nossas vidas e nossa sociedade. Elas reconhecem que a cultura não é um luxo, mas uma necessidade básica, e que investir em cultura é investir em um futuro melhor para todos/as. Por fim, cabe lembrar o que afirmou Gilberto Gil: "Precisa acabar com essa coisa de que cultura é uma coisa extraordinária. Cultura é ordinária. É igual feijão com arroz. É necessidade básica. Tem que está na mesa, tem que está na cesta básica de todo mundo." Que os nossos governantes, especialmente em Rondônia, se atentem a este fato, sobretudo porque estamos na periferia do Brasil e uma afirmação de nossa identidade passa por uma arte e cultura fortes e elas só serão com investimentos em políticas públicas e com respeito às produções artísticas e seus/suas criadores/as.

sexta-feira, 7 de junho de 2024

Teatro de Grupo e Criação de Repertório no CCDH: Um Encontro com o Núcleo Ás de Paus

 

O Centro Cultural e de Documentação Histórica do Judiciário de Rondônia (CCDH) receberá o evento Teatro de Grupo e Criação de Repertório, que ocorrerá no dia 10 de junho, às 14h. Este encontro contará com a presença dos integrantes do Núcleo Ás de Paus de Londrina/PR, um coletivo teatral renomado que acumula mais de 15 anos de trajetória artística e cultural.

Núcleo Ás de Paus: Rogério Francisco Costa, Camila Feoli
e Thunay Tartari. Foto: Divulgação

O Núcleo Ás de Paus foi criado em 2008 e tem como foco a investigação teatral colaborativa, com integrantes que são atores, diretores e produtores. Suas obras têm como destaque o trabalho vocal e o uso de pernas de pau, máscaras e bastões, de modo a criarem um prolongamento dos artistas em suas performances, ampliando, assim, sua potência poético-estética. O coletivo, composto pelos artistas Camila Feoli, Rogério Francisco Costa e Thunay Tartari, apresenta-se em espaços públicos abertos e salas tradicionais em todo o país. Sua participação no evento proporcionará uma oportunidade única para os participantes compreenderem os desafios e as conquistas do processo de criação coletiva e da manutenção de um repertório dinâmico e relevante.

A conversa será mediada pelos professores Adailtom Alves Teixeira e Jussara Trindade Moreira, ambos docentes do Curso de Licenciatura em Teatro da Universidade Federal de Rondônia (UNIR). O intuito da conversa é enriquecer o debate com suas perspectivas acadêmicas e práticas sobre o teatro e a construção de repertórios.

Este evento é uma iniciativa importante para a troca de conhecimentos e experiências entre artistas, estudantes e entusiastas do teatro. Todos estão convidados a participar desta tarde de aprendizado.

 

Serviço:

Evento: Teatro de Grupo e Criação de Repertório

Data: 10 de junho de 2024

Horário: 14h

Local: Centro Cultural e de Documentação Histórica do Judiciário de Rondônia (CCDH) – Rua Rogério Weber, 2396 – Caiari (em frente a praça das Três Caixas d`Água)

GRATUITO

Informações: (69) 98120-8611

segunda-feira, 3 de junho de 2024

XV Festival Amazônia Encena na Rua

Adailtom Alves Teixeira





O XV Festival Amazônia Encena na Rua, um dos maiores festivais de teatro de rua do Brasil, ocorrerá nos dias 07, 08 e 09 de junho de 2024. No entanto, apesar de sua importância, enfrentou novamente desafios significativos para assegurar os recursos necessários para sua realização. Este festival é um significativo evento cultural que celebra a arte pública de rua e reúne diversos grupos teatrais, oferecendo ao público uma experiência única e envolvente.



Este ano, o festival será realizado na Arena do Complexo da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFMM), retomando o local de edições anteriores, espaço que simboliza a rica história e o marco zero de Rondônia. O local, patrimônio histórico, é um símbolo também da região amazônica.



O XV Festival Amazônia Encena na Rua é uma celebração da resistência e da criatividade artística, mesmo enfrentando desafios financeiros para continuar trazendo cultura e entretenimento de qualidade para o público, mantém-se como um dos mais longevos do país nessa modalidade. Por isso, já que o poder público ainda não se deu conta de tal importância, a participação da comunidade e o apoio ao festival são fundamentais para a continuidade deste evento que já se consolidou como um dos mais importantes do calendário cultural brasileiro.


A programação totalmente gratuita reúne espetáculos teatrais e de dança bem diversificados e para todos os públicos e idades. Confira abaixo.



Programação:

Data: 07/06/2024 - a partir das 19h

Espetáculo: Leno Queria Nascer Flor

Grupo: Núcleo Ás de Paus (PR)



Espetáculo: Índigenas da Amazônia

Grupo: Cia Yaporanga (RO)



Data: 08/06/2024 - a partir das 18h

Espetáculo: Cabaré Ruante

Grupo: Teatro Ruante (RO)


Espetáculo: Encontro de Gigantes

Grupo: Núcleo Ás de Paus (PR)



Data: 09/06/2024 - a partir das 18h

Espetáculo: Que Palhaçada é Essa?

Grupo: O Imaginário (RO)



Espetáculo: Fagulha

Grupo: Núcleo Ás de Paus (PR)




sexta-feira, 24 de maio de 2024

A dificuldade de fazer valer o direito à arte e cultura aos cidadãos rondonienses

 

Adailtom Alves Teixeira[1]

Relembrando Fanon, eu diria que a arte capacita um homem ou uma mulher a não ser estranho em seu meio ambiente nem estrangeiro no seu próprio país. Ela supera o estado de despersonalização, inserindo o indivíduo no lugar ao qual pertence, reforçando e ampliando seus lugares no mundo.

Ana Mae Barbosa - Inquietações no ensino de arte

Arte e vida estão umbilicalmente ligadas. A arte produzida em uma cidade, em um estado ou país, é construtora da identidade dessas realidades. Por meio da arte refletimos quem somos, ao mesmo tempo em que questionamos o que somos, isso porque arte também é conhecimento. A arte é um dos elementos fundantes da cultura de um povo e não há nenhuma sociedade desenvolvida ou dita civilizada que prescindiu do investimento nesse campo ao longo de seu desenvolvimento histórico. Por isso mesmo, desde a Constituição Federal de 1988, a cultura está assegurada como direito. Quem tem esse direito? A sociedade como um todo, homens e mulheres tem assegurados sua possibilidade de expressão, bem como o acesso aos bens culturais produzidos. Daí a importância das políticas públicas de cultura, pois são elas que asseguram esse direito constitucional.

O estado de Rondônia engatinha nas políticas públicas de cultura. Sua construção data de pouco mais de uma década e os primeiros editais a contemplarem algumas setoriais artísticas são de 2017. O custo disso é o alijamento dessa potente cadeia produtiva, que gera renda e muitos empregos diretos e indiretos. Os maiores recursos investidos em cultura no estado vieram de políticas emergenciais, uma conquista dos artistas de todo o país, que, por meio de sua luta, conseguiram fazer com que o Congresso os enxergassem em um momento tão difícil em todo o mundo. Estou me referindo à pandemia de Covid-19. Da luta dos/as artistas em aliança com os/as parlamentares nasceram as leis federais Aldir Blanc (14.017/2020) e a Paulo Gustavo (195/2022), por meio das quais foram destinados recursos à todas unidades federativas. A última, a Lei Paulo Gustavo (LPG), ainda não foi executada em Rondônia.


Na sessão parlamentar da Assembleia Legislativa (ALE) de 23 de maio de 2024, um dos itens de pauta era a autorização dos recursos da ordem de pouco mais de 26 milhões para serem utilizados pela Secretaria de Cultura, Esporte, Juventude e Lazer (Sejucel), para, justamente, fazer com que a LPG fosse posta em prática. Na ocasião, o parlamentar Delegado Camargo (Republicanos), pediu vistas do processo, atrasando ainda mais sua execução. Conforme vídeo que circula na internet e redes sociais (https://www.instagram.com/p/C7VhF2_M4m9/), dois outros parlamentares esclareceram que os recursos não têm impactos fiscais para o estado e que o prazo está próximo de seu encerramento, isto é, se o simples ato autorizativo (é tudo que lhes cabe) da ALE não ocorrer dentro do prazo, os recursos irão retornar aos cofres federais, deixando a cadeia artística ainda mais debilitada. Cabe destacar que os recursos daí advindos não impactam apenas artistas, mas toda a economia local, afinal, na execução dos projetos culturais os recursos circulam pela rede hoteleira, restaurantes, gráficas, transportes, entre outros.

O desconhecimento do parlamentar Camargo, disfarçado de zelo pelos recursos públicos, é um escárnio aos fazedores de cultura de Rondônia, pois ao pedir vistas do processo – ainda que seja direito de todo/a parlamentar – não só atrasa a execução da LPG, mas põe em risco a perda desse importante recurso federal. Por isso, não é possível ver de outro modo, se não como um ataque direto às artes e à cultura rondoniense. Apesar disso, ouso afirmar que nem mesmo esse tipo de político é capaz de viver sem arte, pois é certo que deve escutar alguma música, assistir algum filme, série ou novela e, ainda que mais raro, deve ter lido algum livro ao longo de sua vida; e, quando tem filhos/as, esse tipo de pessoa costuma colocá-los em escolas de dança, de música, de artes plásticas etc., com o fito de melhor prepará-los para a vida. Espero que o citado parlamentar, mas não só, saiba que todos esses elementos são arte e compõem uma cadeia produtiva em nosso país. Cabe destacar ainda que é esse tipo de político que também costuma frequentar os grandes eventos culturais do estado, como Flor do Maracujá, Duelo na Fronteira, dentre outros, à caça de votos.

O saudoso Leonel Brizola afirmava que cultura “não dá votos, mas tira”. Que cada artista do estado de Rondônia conheça bem seus políticos e saibam pintá-los ao público que lhes prestigia conforme à realidade como tais políticos agem em relação à arte; quem sabe, assim, possamos arrancar do parlamento e outras instâncias de poder os inimigos da cultura.



[1] Mestre e doutor em Artes pelo Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (Unesp); professor adjunto do Departamento Acadêmico de Artes da Universidade Federal de Rondônia.