Curso: Licenciatura em Teatro/UNIR (3º período – 2019-1)
Docente: Professor Me. Adailtom Alves Teixeira
Discentes: Dennis Weberton Vendruscolo Gonçalves
Disciplina: História do Teatro e Literatura Dramática A
Uma das frases que mais chamou a
minha atenção no documentário “O
outro teatro: do ritual à performance”, do pesquisador Zeca Ligiéro, foi: “O teatro está, às
vezes, na mesma quadra em que moramos”. Isso porque me recordei dos folguedos
natalinos que são comuns na minha cidade natal, Alta Floresta D'Oeste, interior
do estado de Rondônia. Antes do Natal, pouco mais de quinze pessoas saem às
ruas da cidade com a tradicional Folia de Reis. Os bastiões vão à frente
pedindo licença para adentrar nas casas e tocar toadas anunciando a chegada do
menino Jesus.
Observei por diversas vezes, antes
mesmo de fazer parte de um grupo de teatro, que há em seus gestos, nas suas
falas, toda uma teatralidade, um jogo entre os membros da folia e os donos das
casas, que recebem em seus recintos o ritual de anunciação. Intuição essa que
foi confirmada com pesquisas e mais pesquisas que fiz para uma
reportagem sobre a festividade em 2011. Intuição que foi reafirmada ao assistir o documentário de
Zeca Ligiéro, o qual classifica a folia de reis como uma performance cultural,
estabelecendo o conceito de motriz cultural, em que tradições africanas e
ameríndias são perfomadas no Brasil, atualizadas e ressignificadas conforme o
contexto em que estão inseridas (a Folia de Reis, por exemplo, mescla elementos
da religiosidade cristã européia com a africana).
Essa breve introdução me fez
refletir sobre o que é teatro. E é essa questão que também permeia o
documentário em seus mais de 20 minutos. O pesquisador Zeca Ligiéro vai em
busca dos outros teatros, de possibilidades cênicas difundidas em países da
Ásia, da América e da África e nos apresenta a rica história do teatro na
China, com sua ópera tão característica em que são mescladas desde as belas
artes até as artes marciais, e que foge do tom realista tão caro aos europeus.
O documentarista também nos mostrará
a potência ameríndia no que diz respeito à teatralidade, em especial da
tradição maia no fazer cênico e de como essa estética se aproxima da chinesa,
em que o corpo é visto de maneira não realista. Por fim, são mostrados rituais
africanos que abarcam processos teatrais na maneira como são contadas as
histórias, como são encenadas através do dançar, batucar e cantar histórias
míticas de um povo, ou de vários, fazendo uso de dois elementos que se
intercalam e por vezes se misturam que são o ritual e o jogo (brincadeira).
Nesse processo de estabelecer e
evidenciar a teatralidade em outras culturas que são hegemônicas (asiática,
americana e africana), que não estão contidas em um edifício (o teatro - local
- espaço onde se vê) ou que não correspondem ao que classificam como teatro
contemporâneo, o pesquisador vai nos apresentar o conceito de performance, em
que o performer se mostra como o próprio texto, e ao invés de representar um
personagem, representa a si mesmo, ou ainda, com seu corpo processa as matrizes
culturais a que está inserido e, a partir disso, “corporifica uma literatura
viva, desenvolvida a cada apresentação”.
A partir dos conceitos apresentados
no documentário, percebo que teatro vai muito além de espetáculos encenados em
um espaço previamente estabelecido, muito além do entretenimento, muito além do
que peças européias que estudamos e encenamos exaustivamente no mercado e na
academia. O teatro é uma possibilidade de reinvenção, de recriação, de
comemoração, através do ritual e do jogo, de dramaturgias diversas e que muitas
vezes estão à margem do processo de visibilidade. Como Ligiéro diz, esses
outros teatros “carregam para a cena as crenças, as concepções espirituais e as
peculiaridades de cada cultura” e é desses teatros que precisamos saber e
pesquisar cada vez mais.
REFERÊNCIAS
O OUTRO teatro – do ritual à
performance. Direção: Zeca Ligiéro. Produção: Núcleo de Estudos das
Performances Afro-Ameríndias. Rio de Janeiro (RJ). 2018, Vídeo on line.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=I5BKv48WC7c. Acesso em: 05/07/2019.